sexta-feira, 23 de outubro de 2009

bicicleta nova + luiz = vergueiro, liberdade - sé - anhangabaú - tiradentes - cruzeiro do sul.... e as chaves?! ou como fui parar na goma alheia às 2h

Começou na quarta-feira. Decidido por fim como, qual e onde comprar minha primeira bicicleta da maioridade. Ligo impetuoso para muitos lugares. Fecho a compra na total bike, que tem uma loja perto do serviço, na rua Cubatão. Só que liguei e fechei o pedido na loja errada, de Santo Amaro. Muito generosamente, Ricardo, o simpático atendente da loja da Cubatão conversa com seu correspondente Caio e combinam de enviar a bicicleta para cá no dia seguinte, quinta-feira. Com isso, perdi o melhor dia da semana para ir pedalando de bicicleta do meu serviço para minha casa, na zona norte (é, acredita que tem gente que achava loucura?). Ok, reprogramo-me para quinta-feira. Teria que deixar umas coisas no serviço, mas valia a pena.

(Estava, afinal, ansioso e vidrado na minha tão sonhada Andes, amarela e cinza, com suspensãozinha dianteira.)

Quinta-feira tinha combinado de ensaiar com o Will. William Araújo Barreto, 33 anos. Faz faculdade comigo e é o último nome que citarei por inteiro nesse relato. O trabalho dele vocês podem ver abaixo (quer dizer, um trecho do 1° ensaio apenas), ele me convidou para realizá-lo em dupla com ele e para mim é uma grande oportunidade participar. Tem me motivado bastante mesmo com as escoriações decorrentes dos ensaios.



Para isso, fui carregado de roupas, tripé e câmera fotográfica para o serviço. 3 volumes ao total, grandes e pendurados pelo corpo. O plano era deixar essas coisas no meu armário. Tem gente que fica encabulado de andar comigo quando estou assim parecendo um mochileiro. Não o Will. Ele me acompanhou até o serviço, para eu me trocar, deixar as coisas e pegar a bike. Depois acompanhei ele até um metro próximo. Esse meu amigo também anda de bicicleta, ficou empolgado ao ver a minha, querendo agitar pedaladas noturnas. Agitaremos!

Aí fui eu pedalando no circuito que intitula este relato. Só descida até o Anhangabaú. Mas, na região do metrô liberdade, eu fui descer de uma calçada rebaixada que me pareceu muito segura. Era, não fosse pelo buraco logo depois dela que eu não vi e portanto não levantei meu corpo do selim. Resultado: selim danificado! torto. Não desanimei, só preciso do selim para apoiar "tenho as pernas fortes".

Chegando na Sé, o telefone toca. N.A. (não citarei nomes, vamos lá, usem a mente!) me ligando. "Nossa, pensei que você nunca mais ia querer falar comigo. Que bom receber sua ligação!" Parei num lugar menos inseguro, com uma vista linda para a catedral da sé, vista de costas, e para um mendigo que dormia sereno há alguns metros de mim. Celular na mão. "Estava pensando em ir na sua casa hoje. aliás, estou no caminho". "hum.... segura aí que eu verificar uma coisa e já te ligo". Eu ia receber M.W. em casa naquele dia. Há um desafeto oblíquo (e dissimulado) de N.A. em direção a M.W. e tenho certeza de um encontro tornaria as coisas mais desafetuosas, senão tensas, senão definitivamente desagradáveis. Enfim, era absurdo. Ligo para M.W. que, ao contrário do que costuma acontecer, me atende. "Tá aonde?". "Meu, tou no terminal"."Que terminal?". "Pedro II, desculpa não ter ligado. É que hoje não dá mesmo, tentamos semana que vem". Azar o seu, o blog é seu e eu em vez de trabalhar de graça vou passar uma noite agradável, descansando horrores da pedalada! hunf! Ligo para N.A. e confirmo. "Te encontro no metrô Santana, estou indo de bicicleta".

Desci as ruas charmosas (ainda que fedendo a urina) da Sé e São bento. Cheguei no trecho que eu achei que não conhecia. Pedi informação para uns garis simpáticos que estavam por lá, cantando e dançando, tirando sarro um do outro. Ah, a vida noturna! E fui adiante. Mal sabia eu que conhecia muito bem a região, de milhares de ônibus que pago que passam por lá. Rapidinho estava na Av. Tiradentes.

Próximo a estação Luz, dei uma apoiada boa sobre o selim (subidinha cansou) e ele caiu de vez... a metade da direita. Pedalei até em frente a Rota, na avenida Tiradentes e fiquei tentando colocar o selim no lugar. Era apenas um encaixe de metal que tinha entortado um pouco e soltado de um outro encaixe. Fiquei alguns minutos forçando, até que passa do meu lado um sujeito simpático, de boné, oferecendo ajuda. Meio desolado solto um "pode ser". Ficamos lá forçando daqui, segurando dali. Nada. Descubro que ele estudou na ETESP e que estava querendo comprar uma Dahon, uma dessas bikes importadas, dobráveis, muito caras. Marcos é o nome dele. "Bem... acho que vou encarar um metrô". Foi o pensamento necessário para eu me encher daquela genialidade que atinge os aflitos, conectar meia dúzia de sinapses na minha mente e torcer o selim para forçar os encaixes. Torcer! E funcinou. Agradeci muito a ajuda do novo amigo e parti pedalando pela Tiradentes.


Na Região da Armênia, rua que eu andei durante três anos da minha vida, todo dia útil (embora fossem muitos deles bastante inúteis) eu percebi que o selim desencaixava novamente, toda hora. E fiquei nessa brincadeira de pedalar um pedaço e descer da bike outro pedaço, para arrumar o selim. Maior parte do tempo nesse percurso eu fui pedalando levantado, com o peso sobre as pernas. (Estranho não estar com as pernas latejando hoje... acho que, afinal, é um percurso pequeno). Na ponte que acompanha a linha do metro, ali sobre a marginal, eu resolvi dar uma relaxada. Desci da bike e fui caminhando, com ela do lado, até a ponte acabar. Pedalei mais do Tietê ao Carandirú, quando começou a garoar. Mancada! Desci novamente da bike um pouco depois do Carandirú. Até santana era uma caminhada pequena. Liguei para N.A.. "Onde você está?". "Tietê". "Nossa, estou na sua frente! Nos encontramos na catraca do metrô Santana então!". Cheguei lá são e salvo, molhado de chuva e suor, mas inteiro e feliz como uma criança (ahhhh, a endorfina) e arrumei o selim com calma. Tudo de volta ao lugar!

A minha história poderia terminar por aqui. Não termina.

O plano era simples: ir para minha casa de vagar, na garoa fina (agora já estava indo embora) a pé, levando a bike ao lado e com a companhia de N.A. Ela estava um pouco desanimada, eu, com endorfina até os cabelos, pingando. No caminho, um pequeno mar de sapatos novíssimos, mas sem par, jogados a própria sorte pela rua animou um pouco a jornada. Mais para frente, ao passar por um prédio bonitinho e com porteiro brinquei "Podia ser a qui a minha casa, né!?". É. Podia mesmo.

Chegamos na porta de casa e eu encaro por milésimos de segundos a fechadura. "Minha nossa!" pensei "Esqueci as chaves no serviço!". Na bolsa onde havia meu figurino da performance e a câmera fotográfica. IRONIA #1: M.W., que iria a minha casa naquela noite, possui cópias da chave da minha casa. IRONIA #2: N.A. estava com um grande amigo meu quando me ligou (e eu estava na Sé, lembra-se?) que também possui cópia da chave de casa e inclusive tinha sugerido de juntar-se a nós naquela noite.

Toco nos apartamentos vizinhos: ninguém atende. Ligo para um vizinho amigo meu, amigão mesmo: não atende. Amiga da N.A. que mora na região: sem condições. Hotel: que hotel? Só se for um daqueles inferninhos nos arredores do metrô, 30 reais / 3 horas. Nem pensar! Pensa, pensa, pensa. Já sei...

Era mais de 1 hora da manhã quando liguei para casa do A.B. (o que quer dizer que levei 2hs mais ou menos no meu conturbadinho trajeto). Caro leitor ocasional de minhas desventuras, se você chegou até aqui precisa saber: ainda bem que existem pessoas no mundo como o A.B.. E como N.A., que me disse, a caminho da casa do referido amigo "quando a gente faz uma merda muito grande por uma coisa que não vale a pena, nossos fiadores são os nossos amigos". Tudo vale a pena se a alma não é pequena, afinal. Claro que me refiro a bike, mas N.A. referia-se a outra coisa. Referimo-nos todos a coisas distintas, afinal. Qualquer impressão de entendimento não passa de um mal entendido.

A.B. tem esposa e um enteado. Naquele dia, tinha também acabado de comprar um cachorrinho (Valentina, o nome dela, veio nos acordar 4h20 da manhã!). Miojo, edredon no sofá, uma conversa para compensar o tempo distantes, banho e ainda brincar com um cachorrinho. É. Podia ter sido muuuiiiito pior. Agradeço aos fiadores, imensamente. Amigos, vocês serão recompensados! É uma promessa!

Minha bike ainda está lá, com o selim precisando de um reparo e eu não vejo a hora de vê-la de novo.

Fim da transmissão!

Um comentário:

  1. haha caram que aventura hahaha, bicicleta e longas distancias costumam dar boas histórias.

    boa sorte com a sua hahaha

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