domingo, 3 de março de 2024

Is just to love and be loved in return

Gatite partiu na quinta-feira dia 22 de fevereiro, por volta de 11hs.


Ela entrou na nossa vida durante a pandemia de COVID 19, em 2020. 

Foi em Julho. A Íris já estava há alguns meses sem ir para a escola (e ficaria muitos mais) e eu estava com o pé recém quebrado. Para complicar, o proprietário pediu a casa em que morávamos de aluguel. Natascha estava aqui para nos ajudar a lidar com as novidades.

Foi nesse contexto intenso que a Gatite veio para as nossas vidas. Ela já me visitava de tempos em tempos para pedir carinho. Mas naquele julho ela se sentiu mais à vontade para entrar dentro de casa.

A Natascha facilitou um pouquinho e a Gatite acabou ficando. Aliás, escolhendo ficar. Não era um filhote, era um gatão grande e bem cuidado que, aparentemente, trocou a casa em que vivia pela nossa. As portas e janelas estavam sempre abertas, mas desde que chegou ela nunca passou um dia fora.

Eu nunca conheci uma pessoa felina tão amável e carinhosa como a Gatite.

Depois de um tempo, fizemos a mudança como o previsto - de um sobrado com 3 quintais e árvore no jardim para um pequeno apartamento. Me preocupei se a Gatite ia se adaptar. Se adaptou.

Vivemos três anos juntos ali no apartamento. Compramos até uma coleirinha para passear.

Em novembro de 2023, a Gatite, que sempre foi muito grande, perdeu muito peso. Uma noite, vomitou a madrugada toda e ninguém em casa conseguiu dormir. No dia seguinte, levamos na Dra Natália, veterinária.

Dali uns dias estava internada. Tomando remédios. Fazendo ultrassom. Comendo comida especial.

Foram 4 meses em que os cuidados se intensificaram a cada semana - e as oscilações dos gastos deixavam muito claro que não ia sobrar dinheiro algum.

Quando foi preciso fazer a transfusão em fevereiro, já não havia dinheiro algum. Mas não pudemos negar esse cuidado.

Entrei para o tal mercado de futuros (no futuro eu pago) e no início de fevereiro, a Gatite parecia estar ressuscitada!

Ela entrou na internação duas vezes definhando, e nas duas vezes saiu de lá com a energia de um gatinho jovem.

Foi nessa saída da segunda internação, depois da transfusão, quando o gasto semanal com remédios dobrou, que o Godoy perguntou se podia ajudar fazendo uma Vakinha.

Além do dinheiro, as rotinas de cuidado eram muito extenuantes. Num dia, soro subcutâneo. No outro, injeção. Na enfermaria lá de casa mesmo. Todos os dias, um amplo coquetel de remédios que, no fim, Gatite aprendeu a tomar e eu aprendi a administrar. E ainda duas vezes por semana íamos ao veterinário, muitas vezes colher exames.

Mas mesmo com todos esses cuidados. Mesmo gastando o que tínhamos e não tínhamos de nosso próprio dinheiro, próprio tempo e própria saúde, em duas semanas a Gatite voltou a piorar muito rapidamente.

Voltamos a realizar exames determinantes - para entendermos se ainda havia o que fazer para ajudá-la ao mesmo tempo em que, pelo andar das coisas, já nos entendíamos nos despedindo dela.

Os gatos, ao que nos consta, não costumam demonstrar muito claramente o sofrimento. Não são de reclamar, por assim dizer. Talvez por isso, a gente não via a Gatite piorando. Ela simplesmente piorava, de um dia para o outro. E piorava muito.

Buscamos estar do lado dela em todos esses momentos, como ela também buscou estar do nosso.

Gatite gostava de toque, de carinho, de colo. Não é que ela "deixava" pegar no colo. Ela vinha até nós para que a gente a pegasse no colo.

Dormia com a gente, abraçava (você já viu um gatinho abraçando?), lambia nosso rosto, gostava que a gente segurasse as patinhas dela (como quem dá as mãos para alguém) e às vezes ela própria inventava jeitos de segurar a nossa mão.

Por fim, os exames revelaram que não havia mais possibilidade de melhora. A única sobrevida possível seria baseada num ciclo de transfusão, aumento do sofrimento e nova transfusão. Não fazia sentido.

Assim, nos despedimos  da Gatite no dia 22/02. (Para falar a verdade, ainda estamos nos despedindo de certa forma).


Com muita, muita, muita tristeza, mas com igual gratidão por todo o tempo que passamos juntos.

Ela nos escolheu. E nós a escolhemos de volta como resposta.

Gatite entrou para a nossa família em um momento bastante sensível. Foi uma companhia muito importante para a Íris especialmente durante a Pandemia (a Íris tinha 9 anos quando a pandemia começou, ia passar muito, muito tempo sem a presença de outras crianças e muito muito tempo convivendo apenas comigo). Mas igualmente foi muito importante para mim e para a Natascha.

E para todo mundo que nos visitava quando as visitas voltaram às casas das pessoas com o fim da quarentena. Não teve ninguém que a Gatite não tenha recebido com carinho.

A todos esses amigos (seja os que a conheceram pessoalmente ou apenas virtualmente) deixamos nossa gratidão.

Depois de me despedir da Gatite, um trecho da uma canção veio a minha mente e eu acho que ela ilustra poderosamente nosso encontro. Em especial os versos a seguir, que já deixei em outros lugares.

The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return

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A Gatite partiu, mas a Vakinha segue funcional por mais alguns dias. Quem puder ainda assim contribuir vai estar nos ajudando a fechar as contas do mês (ainda temos alguns meses do tratamento comparecendo à fatura do cartão de crédito).
Olá, meu nome é Gatite e tenho aproximadamente 8 anos. Sou muito carinhosa, adoro aparecer em lives e reuniões online. Mas fiquei doente, precisei ser internada duas vezes e até transfusão de sangue eu fiz. Descobri que sou uma paciente renal, e que também sofro de uma forte anemia. (...)

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajudem-a-gatite