segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Grupo de pesquisa em Larp do Departamento de Artes Cênicas da USP

aquela fotinha básica pra registrar
a primeira visita do André
Enquanto eu trabalhava com André Sarturi no larp Ilha das Bruxas para o Apenas um Jogo no Sesc Itaquera, ele me contou que havia participado de um evento de artes cênicas na USP e lá conhecido um pessoal da graduação que estava pesquisando larp. Pouco tempo depois, alguém desse grupo deu as caras em um grupo fechado de Facebook que reúne pesquisadores acadêmicos de RPG e Larp - e foi aí que começou meu contato propriamente dito com eles.

Na primeira visita que Sarturi fez ao Sesc Itaquera para conhecermos o espaço e debatermos a trajetória do projeto Apenas um Jogo (e o que vínhamos fazendo na linguagem do Larp em São Paulo nos últimos anos), André me convidou para ir com ele para a USP conhecer os pesquisadores - ele tinha programado uma vista ao processo de pesquisa deles e achou que uma aparição surpresa minha seria benvinda.

E foi. Para todos - talvez especialmente para mim.

Acomodados em um pequeno Teatro do Departamento de Artes Cênicas da USP, Sarturi me apresentou aos estudantes Chris Alexsander Martins, da habilitação em licenciatura, e Vinícius Aguiar e Isa Scoralik, da habilitação em atuação - todos cursando a disciplina de atuação III da graduação em Artes Cênicas.

Pelo que me contaram, historicamente, a habilitação em direção teatral desenvolve uma disciplina de "projeto", onde os estudantes, divididos em grupos, fazem pesquisas de acordo com seus interesses em Teatro Contemporâneo e dividem, ao final do semestre, sua experiência com os pares. Até o ano passado (2017), a habilitação em atuação não tinha nada parecido - e os alunos se mobilizaram para ter, eles também, essa oportunidade. Aquele semestre foi o primeiro a desenvolver a noção de "projeto" com os alunos da habilitação em atuação.

Vinicius e Chris já tinham alguma relação pregressa com o RPG e mesmo com o Larp (ambos participaram de pelo menos um larp da Confraria das Ideias, no Sesc Pompéia). Isa não tinha essa relação, mas somou-se ao grupo motivada pelas questões que a pesquisa levantaria.

"Nós somos alunos da graduação em Atuação e esse semestre a proposta do curso deu uma mudada, ao invés de só termos aulas de atuação, a galera está fazendo pesquisas pessoais sobre atuação. Eu e meu grupo estamos usando o larp como um disparador e isso levantou varias questões como: - Dramaturgia em processo ; - A figura do jogador; Esse segundo é o que mais está nos interessando. O que é esse atuante que é, ao mesmo tempo, espectador e ator dentro de um processo? Isso é muito singular do jogo e tem muitas implicações e semelhanças com o teatro. Porém, o desafio maior está sendo tentar explicar dentro das artes cênicas qual é a nossa pesquisa. O tempo todo estão tentando “puxar” a gente pro teatro, enquanto que a gente bate na tecla que a ideia de público é o contrário da nossa proposta, que só jogando a nossa pesquisa que ela faz sentido. Aí acho que esses embates estão nebulando um pouco o foco, já que ao invés de se focar em avançar a pesquisa a gente passa muiiito tempo explicando o que é um jogo hahahahaha. Acho que essa é um resumo-desabafo do que estamos pesquisando." - Vinicius Aguiar

Na ocasião deste encontro, jogamos Café Amargo, de Luiz Prado. O larp foi sugerido pelo Sarturi (que o conheceu na visita do NpLarp à Unicamp em 2016) e produzido pelos pesquisadores do grupo.

A observação de um larp acontecendo é parte da pesquisa do André - que na época se preparava para defender um doutorado sobre mecanismos de participação, em dança, no espaço público - então ele ficou na plateia do teatro, enquanto nós - eu e os estudantes da USP - jogamos Café Amargo sobre o palco, com iluminação cênica.

Foi um jogo intenso, como são os melhores Cafés Amargos que tomamos. Eu representei um filho discutindo com o pai (Vinicius Aguiar) sobre desligar ou não os aparelhos de minha mãe em estado vegetativo e (um personagem que já representei noutra ocasião, em Sorocaba) um marido se despedindo da esposa (Isa Scoralick) meses após a morte da filha.

Assisti (mesmo que você participe do jogo, Café Amargo prevê que você assista os outros jogadores em alguns momentos - e isso faz parte do jogo) - duas vezes, com conotações muito diferentes - dois amigos de longa data se despedindo definitivamente. Uma por desentendimentos motivados pelo dinheiro (Chris e Vinicius). Outra, mais afetuosa, porque um deles simplesmente decidiu partir (Isa e Chris).

Se eu não for designado para fazer apenas isso, eu sempre esqueço de tirar uma foto oficial.
Essas são as únicas fotos que eu bati no dia.

Descobri que - como já era de se imaginar - aquela não era a primeira vez que o grupo jogava larp. Após uma primeira sessão de Fiasco (RPG de Jason Morningstar, cujo manual foi publicado no Brasil pela Retropunk), o grupo apresentou Ouça no Volume Máximo para toda a turma de atuação que experimentou o jogo se dividindo em grupos, e, sozinhos, o grupo jogou Andarilho - ambos os jogos de Luiz Prado.

Me surpreendeu a maturidade (por falta de um termo melhor) com que os três estudantes estavam refletindo as experiências com o larp. O contato deles com o referencial teórico específico da linguagem ainda era muito tímido - mas a sensibilidade para as questões que envolvem o larp me surpreendeu muito positivamente. Em geral, até chegar nas conclusões que eu vi ali, os jogadores demoram um bocado. Eu demorei. Eles não. Era a terceira ou quarta experiência com larp e lá estavam eles falando com propriedade sobre questões que levaram anos para me inquietar.

Foi, sem dúvida, uma grata e estimulante surpresa.


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