Em 2003, ingressei como estudante do
ensino médio no Centro Federal de Ensino Tecnológico de São Paulo, o então
CEFET-SP, hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo, IFSP. Fui aluno do Professor Raul Puschel em 2003 e novamente em 2005.
Em ambas as ocasiões, não tive com
ele aulas de língua portuguesa ou literatura, das quais meu irmão, formado pelo
mesmo CEFET em 2002, já havia me falado inúmeras vezes. Em 2003, quando eu e
meus colegas de classe ingressamos na Federal havia uma disciplina especial na
grade chamada Projeto. Professores da casa elaboravam projetos sobre os mais
diversos temas, resultando em cerca de cinco propostas entre as quais os alunos
deviam escolher. No 1º. Ano as opções eram “água e lixo”, “corpo, comportamento
e sexualidade”, “xadrez” e as aulas de projeto ministradas pelo professor Raul
e pela professora Cleusa, “Formação de repertório e leituras da
contemporaneidade”. Ingressei neste último. Consistiam, os projetos, em um dia
na semana onde todas as aulas (quatro períodos de 45 minutos, se não me falha a
memória) eram ministradas pela dupla de professores.
Um acidente grave afastou a
professora Cleusa por muitos meses naquele ano, de modo que tivemos pouco mais
de um bimestre de aulas com ela. E então o professor Raul Puschel conduziu as
aulas, que eram programadas para dois formadores, sozinho. “Formação de
repertório” era um curso robusto, com uma grande quantidade de leituras dos
mais diversos temas da contemporaneidade e através do curso eu tive meu primeiro
contato com uma série de grandes autores e pensadores com os quais lido até
hoje. Mais que isso, além das propostas de leitura, evidentemente, haviam
propostas de redação, resenha, análise, criação de texto literário e os mais
diversos trabalhos propostos para se realizar sozinho ou em grupo.
Em toda a extensão do curso, o
professor Raul Puschel deu-nos toda atenção, nos conhecia não apenas pelo nome,
como pelos gostos pessoais, inclinações ideológicas e estéticas, trejeitos
estilísticos. Avaliava sozinho toda a extensa produção de uma sala de cerca de
40 alunos (duas salas, pois o projeto existia de tarde também), sempre
escrevendo-nos devolutivas, indicando outros textos e fontes. Acompanhava e
incentivava nosso desenvolvimento com ânimo, sensibilidade e extrema
generosidade, dando atenção às características particulares e interesses
pessoais de cada aluno.
Essas características fizeram com
que nossa turma do primeiro ano de afeiçoasse muito a ele. E, no terceiro ano
do Ensino Médio, em 2005, quando eu e meus colegas soubemos que ele havia
elaborado um novo projeto, agora para nosso terceiro ano, intitulado “Leituras
fundamentais dos últimos 250 anos da Literatura Universal”, nos inscrevemos em
massa. Muitos alunos de nosso primeiro ano estavam nesta nova turma e também
muitos outros alunos do CEFET que já haviam se interessado pelas aulas e
atividades ministradas pelo professor Raul.
Em 2005, o professor Raul Puschel
deu as aulas ao lado do professor Gaspar (do qual não me recordo o sobrenome).
Entre as leituras que realizamos estavam Germinal de Zolá, Macunaíma de Mário
de Andrade, Madame Bovary de Flaubert, O Pai Goriot de Balzac, Crime e Castigo de
Dostoievsky, As Viagens de Guliver de Swift, Metamorfose de Kafka, Fausto de
Ghoete e ainda outros. Um volume de leituras ainda maior que o proposto no
primeiro ano. O professor Raul, que já conhecia todos os textos, assim como o
professor Gaspar, fazia questão de relê-los para acompanhar a turma. Ao
decorrer das aulas, leituras de textos complementares, análises e críticas,
discussões, atividades, exibições de filmes e também muita produção por parte
dos alunos: textos críticos, analíticos e literários, além de seminários e
apresentações. Raul e Gaspar, igualmente generosos e atenciosos mantiveram o
espírito das aulas do primeiro ano, com devolutivas e acompanhamento
individualizados e grande interesse pelo desenvolvimento da turma e grande
capacidade de nos motivar a prosseguir seriamente com o curso e as leituras,
mesmo num ano de “véspera de vestibular”. Entendiam a formação de uma maneira
abrangente e dedicavam-se a isso com reverenciável cuidado.
Em ambos os cursos, mantivemos ao
longo da trajetória uma pasta com todas as nossas atividades. Ainda as guardo
na casa de meus pais, embora possam estar hoje desfalcadas, devido às inúmeras
vezes em que recorri a elas como consulta – seja para aulas que eu dei, porque
o professor Raul Puschel foi desde então, para mim um exemplo de pedagogia,
companheirismo e dedicação no lido com o saber, seja para a continuação de minhas
pesquisas acadêmicas, profissionais e pessoais.
Hoje sou artista plástico, designer
gráfico, cenógrafo e assistente de direção teatral e grande parte dos temas que
ainda trabalho, seja no meu trabalho autoral ou não, parte de conteúdos que me
foram trazidos pelo professor Raul Puschel e pela relação que fui capaz de
estabelecer com esses conteúdos graças a sua dedicação, acompanhamento e
companheirismo.
Ao longo dos anos, todas as pessoas
que conheci que também estudaram com ele, antes ou depois de mim, - pessoas
hoje relacionadas ao estudo da história, artes visuais, vídeo, letras,
jornalismo, química(!), física(!), música, informática(!) – guardam pelo
professor Raul Puschel e por suas aulas o mesmo carinho, reverência e uma amena
e saudável veneração que eu e meus colegas de turma guardamos até hoje.
Quando soube do processo
administrativo pelo qual o professor Raul Puschel passa junto ao Instituto
resolvi compartilhar minhas impressões sobre sua dedicação.
Luiz Falcão
Olá Luiz! Meu nome é Viviane e eu também fui aluna do Professor Raul no curso de Formação de Repertório. Anos depois, ainda guardo um grande carinho por ele e gostaria até de encontrar uma forma de contatá-lo. Mas, será que eu compreendi bem? Você citou processo administrativo? O que aconteceu? Atenciosamente, Viviane Rodrigues.
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