domingo, 3 de março de 2024

Is just to love and be loved in return

Gatite partiu na quinta-feira dia 22 de fevereiro, por volta de 11hs.


Ela entrou na nossa vida durante a pandemia de COVID 19, em 2020. 

Foi em Julho. A Íris já estava há alguns meses sem ir para a escola (e ficaria muitos mais) e eu estava com o pé recém quebrado. Para complicar, o proprietário pediu a casa em que morávamos de aluguel. Natascha estava aqui para nos ajudar a lidar com as novidades.

Foi nesse contexto intenso que a Gatite veio para as nossas vidas. Ela já me visitava de tempos em tempos para pedir carinho. Mas naquele julho ela se sentiu mais à vontade para entrar dentro de casa.

A Natascha facilitou um pouquinho e a Gatite acabou ficando. Aliás, escolhendo ficar. Não era um filhote, era um gatão grande e bem cuidado que, aparentemente, trocou a casa em que vivia pela nossa. As portas e janelas estavam sempre abertas, mas desde que chegou ela nunca passou um dia fora.

Eu nunca conheci uma pessoa felina tão amável e carinhosa como a Gatite.

Depois de um tempo, fizemos a mudança como o previsto - de um sobrado com 3 quintais e árvore no jardim para um pequeno apartamento. Me preocupei se a Gatite ia se adaptar. Se adaptou.

Vivemos três anos juntos ali no apartamento. Compramos até uma coleirinha para passear.

Em novembro de 2023, a Gatite, que sempre foi muito grande, perdeu muito peso. Uma noite, vomitou a madrugada toda e ninguém em casa conseguiu dormir. No dia seguinte, levamos na Dra Natália, veterinária.

Dali uns dias estava internada. Tomando remédios. Fazendo ultrassom. Comendo comida especial.

Foram 4 meses em que os cuidados se intensificaram a cada semana - e as oscilações dos gastos deixavam muito claro que não ia sobrar dinheiro algum.

Quando foi preciso fazer a transfusão em fevereiro, já não havia dinheiro algum. Mas não pudemos negar esse cuidado.

Entrei para o tal mercado de futuros (no futuro eu pago) e no início de fevereiro, a Gatite parecia estar ressuscitada!

Ela entrou na internação duas vezes definhando, e nas duas vezes saiu de lá com a energia de um gatinho jovem.

Foi nessa saída da segunda internação, depois da transfusão, quando o gasto semanal com remédios dobrou, que o Godoy perguntou se podia ajudar fazendo uma Vakinha.

Além do dinheiro, as rotinas de cuidado eram muito extenuantes. Num dia, soro subcutâneo. No outro, injeção. Na enfermaria lá de casa mesmo. Todos os dias, um amplo coquetel de remédios que, no fim, Gatite aprendeu a tomar e eu aprendi a administrar. E ainda duas vezes por semana íamos ao veterinário, muitas vezes colher exames.

Mas mesmo com todos esses cuidados. Mesmo gastando o que tínhamos e não tínhamos de nosso próprio dinheiro, próprio tempo e própria saúde, em duas semanas a Gatite voltou a piorar muito rapidamente.

Voltamos a realizar exames determinantes - para entendermos se ainda havia o que fazer para ajudá-la ao mesmo tempo em que, pelo andar das coisas, já nos entendíamos nos despedindo dela.

Os gatos, ao que nos consta, não costumam demonstrar muito claramente o sofrimento. Não são de reclamar, por assim dizer. Talvez por isso, a gente não via a Gatite piorando. Ela simplesmente piorava, de um dia para o outro. E piorava muito.

Buscamos estar do lado dela em todos esses momentos, como ela também buscou estar do nosso.

Gatite gostava de toque, de carinho, de colo. Não é que ela "deixava" pegar no colo. Ela vinha até nós para que a gente a pegasse no colo.

Dormia com a gente, abraçava (você já viu um gatinho abraçando?), lambia nosso rosto, gostava que a gente segurasse as patinhas dela (como quem dá as mãos para alguém) e às vezes ela própria inventava jeitos de segurar a nossa mão.

Por fim, os exames revelaram que não havia mais possibilidade de melhora. A única sobrevida possível seria baseada num ciclo de transfusão, aumento do sofrimento e nova transfusão. Não fazia sentido.

Assim, nos despedimos  da Gatite no dia 22/02. (Para falar a verdade, ainda estamos nos despedindo de certa forma).


Com muita, muita, muita tristeza, mas com igual gratidão por todo o tempo que passamos juntos.

Ela nos escolheu. E nós a escolhemos de volta como resposta.

Gatite entrou para a nossa família em um momento bastante sensível. Foi uma companhia muito importante para a Íris especialmente durante a Pandemia (a Íris tinha 9 anos quando a pandemia começou, ia passar muito, muito tempo sem a presença de outras crianças e muito muito tempo convivendo apenas comigo). Mas igualmente foi muito importante para mim e para a Natascha.

E para todo mundo que nos visitava quando as visitas voltaram às casas das pessoas com o fim da quarentena. Não teve ninguém que a Gatite não tenha recebido com carinho.

A todos esses amigos (seja os que a conheceram pessoalmente ou apenas virtualmente) deixamos nossa gratidão.

Depois de me despedir da Gatite, um trecho da uma canção veio a minha mente e eu acho que ela ilustra poderosamente nosso encontro. Em especial os versos a seguir, que já deixei em outros lugares.

The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return

_ _ _ _

A Gatite partiu, mas a Vakinha segue funcional por mais alguns dias. Quem puder ainda assim contribuir vai estar nos ajudando a fechar as contas do mês (ainda temos alguns meses do tratamento comparecendo à fatura do cartão de crédito).
Olá, meu nome é Gatite e tenho aproximadamente 8 anos. Sou muito carinhosa, adoro aparecer em lives e reuniões online. Mas fiquei doente, precisei ser internada duas vezes e até transfusão de sangue eu fiz. Descobri que sou uma paciente renal, e que também sofro de uma forte anemia. (...)

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajudem-a-gatite

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Catábase no CCJ

Na madrugada do dia 21 para o dia 22 de outubro rolou o playtest / abertura de processo do larp Catábase - a história de uma liderança religiosa que conduz uma pequena comunidade com o auxílio de entidades que ele visita durante a noite.


Neste larp, um único jogador faz o mesmo personagem o tempo todo. Os demais se revezam em dois papéis, muito diferentes um do outro.

Eu não me lembro de alguma vez já ter feito uma experiência parecida com essa: a partir de um esboço da estrutura de um larp, reunir participantes para juntos levantarmos cenário, iluminação e combinarmos juntos detalhes da experiência enquanto ela transcorre.

Mais de dez anos atrás, quando participei da fundação do Boi Voador, o objetivo era o oposto: entregar o mais bem acabada possível uma experiência imersiva e participativa a um grupo de jogadores.

A experiência que rolou na madrugada do 13° Encontro de RPG do CCJ - Centro Cultural da Juventude foi, para mim, muitíssimo rica. Tivemos ao todo 13 jogadores e encerramos as atividades apenas às 6h da manhã. Sinal que o jogo rendeu.

Coletei feedbacks muito bacanas (que devo dividir com o público em breve) e pretendo registrar em texto como foi a experiência.

E estou animado para fazer mais vezes. 🙂

Agradeço à Confraria das Ideias pelo convite ❤ e a todas as pessoas que participaram da experiência.
Muito obrigado.


#larp #larpbrasil #catábase #katabasis

sábado, 14 de outubro de 2023

Catábase, playtest / abertura de processo no 13° RPG no CCJ

21 ~ 22/out
23H30 ~ 4H30 LARP

CATÁBASE, com Luiz Falcão

Em uma pequena comunidade, uma nova liderança religiosa experimenta uma rápida ascensão. Ela traz prosperidade e opera verdadeiros milagres. Mas tudo tem um preço e ele será cobrado.Catábase (Katabasis) é um larp em processo de criação, ainda inacabado, que será colocado para jogo na madrugada do 13° RPG no CCJ. Junto com o proponente, os jogadores farão escolhas de design e experimentarão variações em tempo real, numa experiência de design aberto e participação profunda.

Catábase é um larp de experiência assimétrica. Nele, um dos jogadores representará o mesmo personagem do início ao fim: a liderança religiosa. Os demais se alternarão em 2 papéis: os fiéis dessa religião emergente e os espíritos (ou demônios) que conferem os milagres à comunidade, mas que exigirão coisas em troca. Cenário, personagens e ambiente de jogo serão criados coletivamente.
___

A convite da Confraria das Ideias estarei no Centro Cultural da Juventude entre os dias 21 e 22 de outubro realizando o playtest do larp Catábase (Katabasis) - um jogo cujo design não está 100% fechado e vamos ter a oportunidade de experimentar soluções de design juntos, jogando.

Faça sua pré-inscrição no link https://forms.gle/zUYcLPcKtMmwBzZHA

Entre no grupo de whatsapp no link https://chat.whatsapp.com/L5v4mT0jLh89OcCeBj68P4


QUANDO?
Na madrugada do dia 21 para o dia 22 de outubro
Início 23h30
Término até às 4h30

ONDE?

Exibir mapa ampliado
Centro Cultural da Juventude – CCJ
Av. Deputado Emílio Carlos, 3641.
Vila Nova Cachoeirinha. Zona Norte. São Paulo/SP.
(ao lado do terminal Cachoeirinha).

NO EVENTO
Catábase faz parte da programação do evento 13° Encontro de RPG do CCJ - Confira toda a Programação




PS: imagens usadas na postagem foram retiradas do clipe da música I Love You, do artista WoodKid (Yoann Lemoine). Direção do próprio artista com cinematografia de Arnaud Potier. O modelo das fotos é o russo Matvey Lykov.

domingo, 16 de abril de 2023

10 anos do Livro Roxo

originalmente publicado no facebook em 15 de fevereiro de 2023

10 anos.

Hoje a publicação do 'guia de larp', o Livro Roxo, completa 10 anos.

Não havia muita coisa para ler sobre larp, em português, naquela época. Aliás, nem havíamos consolidado chamar o que fazemos de larp ainda (menos ainda com letras minúsculas). 

O guia pretendia trazer uma consolidação do nosso primeiro ano de pesquisa no NpLarp (financiado pelo Programa VAI). Queríamos que ele:

  •  Trouxesse uma definição justa do que é larp, mas sem repetir os preconceitos do senso comum;
  • Apresentasse a prática para além do que já era amplamente conhecido e para além da associação com os RPGs;
  • Apresentasse portas de entrada no mundo do larp, seja através de grupos em atividade, seja através de roteiros disponíveis para "fazer você mesmo" (o que era bem mais raro naquela época).
  • Encorajasse as pessoas a fazerem elas mesmas;
  • Fizesse uma tour pelo mundo, apresentando caminhos para curiosos, pesquisadores e produtores conhecerem referências para além daquelas que já manejávamos na rarefeita cena local;
  • Fosse simpático, de leitura agradável.

A roda viva veio, como sempre vem, e sucessivamente foi impedindo novas verões do material. Algumas informações que estavam ali caducaram. Certas partes não envelheceram tão bem. Muita coisa relevante que foi surgindo depois do guia simplesmente não tem qualquer pista ali... E quanto mais tempo passa, mais difícil fica atualizá-lo.

Ainda assim, o "livro roxo" segue sendo uma relevante porta de entrada e um dos materiais mais citados e reconhecidos por aí - seja em conversas inesperadas, seja em citações acadêmicas!

Mas vamos supor que eu fosse fazer uma nova versão desse livro...? 

O que precisaria mudar em relação a essa versão?

O livro 'LIVE! Live Action Roleplaying, um guia prático para o larp' é gratuito e está disponível em PDF no site do NpLarp. 

--

Pouco tempo atrás, o NpLarp e o Boi Voador também alcançaram essa meta dos 10 anos - e, por um motivo ou por outro, acabei não conseguindo fazer nada a respeito disso, nem mesmo uma postagem como esta. Fica aqui então também a minha carinhosa menção a esses marcos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Como encontrei o horror na Terra dos Mortos

Nalgum momento tardio dessa pandemia, já com duas doses de vacina no braço, a amiga virtual já de longa data Kyrie Flame (Graal RJ) me adicionou num grupo de WhatsApp chamado amavelmente de Larp Brasil. Logo quando entrei, alguns membros estavam compartilhando histórias marcantes que vivenciaram em larps (entre eles, Effe, Daniel Prado Cosenza, Marina Cavoli e outras pessoas já queridíssimas).

Resolvi compartilhar também e reproduzo meu relato abaixo:

As fotos deste post são do Bruno Fischer.

Tem uma foto pra ilustrar meu momento que quero compartilhar com vocês.

Eu já narrei esse momento em mais de uma ocasião (algumas delas em vídeo, gravadas e distribuídas por aí), mas nunca tive oportunidade de ilustrar.

Essa guria da foto (cujo nome eu não sei e talvez nunca tenha sabido) é parte da história  e eu sou esse camarada barbado aí à esquerda da foto.

Foi no inicinho de 2013, em Araraquara. Eu fui acompanhar a Confraria das Ideias para a primeira realização do larp RedHope: Terra dos Mortos (que no mesmo ano eu tive o prazer de produzir em outra escala e já passo um link pra vcs verem, rs).

Eu não estava familiarizado com o enredo, as mecânicas, os personagens... nada. Então eu acabei jogando...

A história de passava em um universo ficcional que eu tinha ajudado a criar muitos anos antes.

Na história, a vida na Terra tinha sido consumida por uma pandemia (sério) que transformava as pessoas em monstros (que depois viraram só zumbis). A Atmosfera ficou impregnada por esse vírus fatal e quem tinha grana deu tchaus e se mudou para estações espaciais na órbita da terra. (e além). 

Em Terra dos Mortos, um grupo de mercenários vinha para Terra para lançar na atmosfera uma cura experimental... mas a missão sofria uma sabotagem e a nave caía.

Meu personagem era o terceiro imediato.... Mas era um golpista. Ele nunca tinha participado de nenhuma missão em solo e nunca tinha sido responsável por uma espaçonave.... Ele fraudou o currículo para entrar como terceiro imediato porque achava que ia ser zica demais ter que assumir o comando. Imaginem... o capitão e o primeiro imediato iam ter que se retirar... isso não ia acontecer.

Mas aconteceu, né? 🤷‍♂️

Fiquei responsável pela missão, pela tripulação e por concertar todos os sistemas da nave... mas não fazia a menor ideia do que fazer.

Aí essa guria ficava enlouquecida entrando e saindo da nave, querendo fazer mil coisas e sempre vindo se reportar a mim. Enquanto isso, os técnicos da nave ficavam me alugando para fazer reparos nos sistemas da nave que eu nunca tinha nem visto porque eu era, basicamente, um impostor. 

Num determinado momento, ela veio desesperada - gente, desesperada - falando que todos iam morrer e que estávamos perdidos.

Eu minimizei e disse que não ia acontecer nada, que ela ia ficar bem, que os médicos iam tratar os feridos e que se não conseguíssemos decolar, íamos chamar o resgate. Ninguém iria morrer.

Ela saiu da sala e eu fiquei ali com um técnico tentando reparar um quadro de energia (um puzzle fdp que o pessoal da Confraria armou pra gente)

Alguns minutos passam e... na sala onde estávamos havia uma janela que permitia ver o lado de fora da nave.

A menina me aparece coberta se sangue, infectada. Completamente de surpresa.

Eu gelei.

Não foi meu personagem que gelou, não. Fui eu.

Eu me senti responsável pela morte daquela guria e o horror tomou conta de mim daquele momento em diante.

Ela estava certa. Todos íamos morrer. Eu estava no comando e não tinha ideia do que estava fazendo. Era tudo culpa minha e todos íamos morrer.

Dito e feito, né?

Todos morremos.

No final, ainda teve um "brinde".

Meu personagem saiu da nave armado até os dentes e foi consumido por uma horda de zumbis. 

Os jogadores, zumbificados, pularam em mim e eu tentei resistir inutilmente. 

O detalhe: o lado de fora da nave era visível para o público do Sesc (onde o Larp foi realizado). 

Minha filha de DOIS ANOS (na época) estava lá e me viu sendo devorado. Ela ficou em pânico!!!! 😱

esse guri era o técnico que estava comigo na sala....

O reconhecimento facial do facebook diz que aquela guria chama Raquel Franco...

E não achei foto dela convertida em zumbi :O Mas achei essa foto abaixo, bruxona demais.


Esse relato poderia facilmente compor a série #umlarppordia, não poderia?

Vale acrescentar que, nas fotos, dá pra ver a faísca nos olhos da Raquel. Na janela, coberta de sangue, esses olhos estavam opacos. É isso.

quarta-feira, 31 de março de 2021

O dia da celebração (v 0.1.1)

esta postagem ainda é um rascunho¹



Criei um larp
Coisa simples
Chama 'o dia da celebração'

É um Larp de festa: jantar, festinha de aniversário, celebração da firma...

Ainda preciso acertar um contexto.

Durante toda a celebração, todos os personagens tem que apoiar uns aos outros e celebrar mutuamente suas conquistas, qualidades, personalidades e cada colocação que for feita.

Qualquer ideia que seja oferecida ao grupo deve ser acolhida, elevada, continuada, aumentada pelos pares. Ainda que nada se faça a respeito no momento, afinal, hoje não o dia de fazer. Hoje é o dia de celebrar.

pedir a palavra

A qualquer momento. Qualquer momento mesmo. Qualquer jogador pode bater com uma colher em sua taça para pedir atenção.

Mas quando o jogador faz isso, é o jogador quem faz isso, e não seu personagem.

Os convíveres todos vão silenciando e, sob silêncio total, o jogador que pediu atenção falará livremente

Nesse discurso, esse jogador poderá falar sobre os poréns que seu personagem veria sobre o que está sendo celebrado, incentivado, partilhado por todos

Pode falar o que seu personagem realmente estaria pensando

É o momento de colocar para fora as interdições, as contradições, as antipatias e advertências

Nenhum outro jogador deve interrompê-lo

Por extensão, o recuso de pedir a palavra pode ser usado para que o jogador comunique aos demais jogadores alguma coisa que ele sinta necessidade de comunicar.

Outro jogador não pode pedir a palavra na sequência.

Antes de fazer isso, o clima de burburinho, confraternização e celebração deve ser reinstaurado no ambiente.

condições

Como o jogo emula uma reunião social, as condições de início e término do jogo estão diegeticamente definidas.

Recomenda-se que os jogadores combinem antecipadamente a duração do jogo (e eventualmente, dependendo do contexto da Narrativa, um anfitrião para a reunião social) e encerrem a celebração obedecendo aos ritos que seus personagens seguiriam

MAS, que tenham uma estratégia para se encontrarem novamente, sem seus personagens, após o término da representação.
Esses são os ritos do jogo

Para além dos ritos,
Poderia-se incluir um cardápio de situações

situações (e influências)

Situações específicas podem funcionar como catalisadores da experiência.

Uma das inspirações para esse jogo é o Larp de final de ano "Festa da Firma". O contexto de uma celebração no ambiente corporativo suscitaria determinados temas para a experiência, diferentes daqueles que seriam levantados em uma formatura de faculdade, uma reunião de turma 20 anos após formados (como no Larp Encontro de ex-alunos), um chá de bebê ou casamento, o aniversário da matriarca de uma família aristocrática em decadência (semelhante ao Larp "A Vida Elegante"), reunião de um partido político (como no Larp Panaceia).

Outra inspiração é o Larp Novas Vozes na Arte, que traz as taças e os solilóquios/monólogos

Novas vozes na arte, inclusive, é um Larp inserido dentro da tradição nórdica. Um contexto onde o recurso do solilóquio/monólogo é chamado de metatécnica e entendido como um recurso disponível para a comunidade de criadores e jogadores de Larp.

Há muitos larps na tradição nórdica que usam a técnica de solilóquio/monólogo, mas eu não consigo me lembrar de nenhum, no Brasil, que faça isso com esse nível de centralidade para a experiência

Novas Vozes na Arte, até onde eu sei, continua inédito no Brasil (e eu continuo tendo planos para realizá-lo, sozinho ou junto a outros conspiradores, em especial ao Luiz Prado no contexto do grupo Boi Voador)

Outro lado que serviu de fonte de inspiração para esse jogo e que pode inspirar uma sessão de 'o dia da celebração' é 13 à mesa, primeiro Larp do Dogma 99, que apesar de ter nome de livro da Ágata Christie é ele próprio inspirado num filme do manifesto Dogma 95 chamado Festa de Família - que também pode servir como inspiração para 'o dia da celebração'

Por aqui, o Larp Calendário, especificamente em sua realização para o Fervo 2017, é certamente uma fortíssima inspiração para o dia da celebração. Interessados podem ler sobre essa experiência por mais de uma perspectiva, já que relatos sobre esse Larp, naquela ocasião, foram escritos por mais de um jogador.

Também brasileiro, o Larp Álcool, apesar de formalmente muito diferente de o dia da celebração, certamente está no horizonte dessa elaboração poética. Fica nesse parágrafo registrada a minha indicação para conhecê-lo

Mas certamente, uma forte inspiração são os larps Lady and Otto, também nunca jogado no Brasil, mas apresentado no contexto brasileiro pelo Wagner Luiz Schmit, em sua palestra promovida pelo NpLarp em 2013...

E uma sessão específica de Um Seixo, organizada no contexto do LabLarp em São Paulo, em 2013.

Soma-se à influência de Lady and Otto as palestras sobre Comunicação Não-Violenta e Comunicação Apreciativa de Pedro Consorte.

Ironicamente, o dia da celebração nasceu em um dia de celebração, mesmo, quando Leandro Godoy apresentou seu artigo para o livro do Knutepunkt numa conferência online. E apesar de jogo ter germe de tensão, e a celebração que o disparou não ter tido.

Além das referências que sou capaz de expressar, um leitor atento ao cenário poderá ver ali outras relações não nomeadas mais ou menos implícitas.

Som, ruido e silêncio, vamos conversar lá fora e outras proposições que circulam na internet e em grupos de prática de Larp certamente devem conter parte dos componentes genéticos que resultam em o dia da celebração. E eu arriscaria nomear alguns outros, ainda mais distantes quando examinados superficialmente.

Mas as listas dos jogos que já existem que compõe o código genético desse lado já está grande.

Mas para além dos jogos que já foram transformados em texto ou já foram propriamente jogados, muitos jogos que permanecem inéditos certamente compõe a base do que veio a se tornar o dia da celebração. Se esses jogos nunca se materializarem em nenhuma forma, mesmo assim eles já tem alguma existência dentro dessas linhas e terão cada vez que o dia da celebração for jogado.

variação

se for para dar uma puxada na direção do Lady and Otto, dá para usar o recurso de pedir a palavra para o jogador expressar que determinado personagem usou a comunicação de forma violenta, depreciou ou criou constrangimento, ele pode pedir para "voltar a cena"

todo mundo age como se aquilo não tivesse sido dito e quem disse tenta formular de outra maneira, considerando a perspectiva que foi exposta



¹ postar este rascunho aqui faz parte de uma tentativa de fazer circular parte das minhas anotações que tenho acumulado há anos e que dificilmente pegam um pouco de ar puro fora das gavetas

domingo, 30 de junho de 2019

10 anos atrás - Flash Mob e a internet contra a realidade "real"

Por acaso, precisei voltar a abrir uma caixa de email obsoleta, abandonada há muitos anos. Deu curiosidade de ver o que haveria na caixa de rascunhos e eu achei esse texto, escrito há exatos 10 anos.

Ele nunca foi terminado, mas resolvi publicá-lo mesmo assim. (sem alarde)


(e sem edições... nem reforma ortográfica, que aliás passou a valer naquele ano e ainda era novidade)



Flash Mob e a internet contra a realidade "real"


luizpires_mesmo...
Ter, 30/06/2009 00:08

Em tempos de orkut, facebook, twitter e iphone, está na moda falar que as novas tecnologias vão substituir coisas que existiam no passado. Está na moda também dizer que não vão. Nessa onda, muito se diz sobre parte da evasão que vemos no RPG nesses últimos anos ter sido ocasionada pela simplicidade e praticidade de um de seus "subprodutos" mais recentes: os MMORPGs.

Além de estarem na moda e em um ótimo momento de avanços e desenvolvimento - o que por si só já lhes garantiria bastante interesse - os MMORPGs tem algumas vantagens em relação a seus correntes como RPG tradicional de mesa e, o que vamos discutir aqui, os Live-Actions.

Instalar o programa e rodar em sua máquina, em uma internet de conexão veloz (supondo que você tenha esses recursos a mão) ou ir até a Lan House mais próxima e pagar por algumas horas de jogo. Em oposição a isso, montar uma simples sessão de RPG de mesa é quase como organizar um evento: tem que arrumar um local, confirmar a presença dos convidados (muitas vezes conhecer os convidados), garantir que todos se divertirão, descolar algo para comer. Um live então, nem se fala! Num live são ainda mais pessoas envolvidas, cenários, figurinos, um enredo e personagens previamente muito bem amarrados (num live é mais difícil tirar qualquer tipo de personagem ou evento da cartola, bem como locomover-se entre "locações").

Não só mais trabalho é necessário para começar uma partida de rpg de mesa ou live-action. Também parece haver menores, ou mais brandas, possibilidades de frustração. Os outros jogadores de um MMORPG (bem como você mesmo, enquanto jogador) provavelmente não dependem tanto de você, de seu personagem, de seu bom-humor ou disposição para com a narrativa quanto talvez dependam seus colegas de rpg/live. Especialmente se você é o mestre/narrador. Um jogador desmotivado dificilmente contaminará, em um MMORPG, todos os outros e mesmo que contamine alguns, a narrativa continua sem estes jogadores, o universo de jogo continuará existindo e disponível para quem quiser jogar. Dessa forma, em um rpg online, é muito mais simples começar e terminar uma sessão - e pode ser feito individualmente, sem grandes interferências no jogo do outro. O fator deslocamento também é praticamente nulo. Os maiores problemas que um jogador de MMORPG pode enfrentar como frustração são provavelmente conexão de internet muito lenta, queda de energia ou, quando muito, cenários desertos. O que também se contorna facilmente - procura-se outro MMORPG, ou interage-se com os non-player-characters (que no rpg online existem independente de uma amigo seu querer mestrar o jogo, ou em analogia a um live, de ter "figurantes" o bastante).

Há quem diga também que além dessa facilidade de começar/jogar/encerrar, um MMORPG tem também mais conforto que o RPG de mesa ou live. Além disso, que tem mais apelo e maior imersão, por ser um ambiente ricamente criado visualmente. Segundo essa lógica de argumentação, seria mais interessante jogar um RPG online com gráficos caprichadíssimos na Terra Média (cenário dos livros O Senhor dos Anéis) do que participar de um rpg de mesa onde o mestre apenas descreveria os ambientes - ou de um live-action, que dificilmente se aproximaria da riqueza, diversidade e magia que existem nos filmes ou jogos de computador da franquia.

Os defensores dessa teoria - que geralmente diz que os jovens de hoje querem tudo fácil, ou que as pessoas não se relacionam mais como antigamente, ou que não tem tanto tempo - podem dizer que isso é uma linha de progresso natural, que tem a ver com nosso tempo e as transformações na nossa sociedade. Não vamos dizer que isso não seja verdade, mas vamos fazer uma analogia com outra modalidade de RPG, um pouco mais antiga: os jogas de miniatura - ou melhor dizendo, a intersecção desses jogos com o RPG. Cronologicamente, poderíamos dizer que os jogos de miniatura precederam o RPG, ou que o RPG foi aos poucos se configurando sem miniaturas.... e que por isso, essa questão de mimetismo (representação da realidade) sairia perdendo para um viés imaginativo, para uma história e um cenário que se formam na mente dos jogadores, mais ou menos como num livro. Mas recentemente houve o retorno multicolorido das miniaturas: levantado pelo heroclicks e cia, as miniaturas do D&D voltaram às lojas, desta vez feitas de plástico, coloridas e disponíveis também em lojas de brinquedo. Ponto para os que dizem que o jogador hoje quer facilidades, quer as coisas prontas e teorias do gênero.

MAS O QUE AS MODALIDADES TRADICIONAIS TEM DE BOM?





"a idéia é de que um jogador pode ficar puto com o mestre e tal por causa de um "mau uso das regras", mas no MMORPG isso não seria possível"


CONCLUSÃO

"tem todo esse "outro" aí que tem que ser respeitado"

Agradeço especialmente ao Tadeu Adrade, que opinou sobre o texto via msn, dando muitas contribuições.