terça-feira, 10 de outubro de 2017

De volta à Ilha das Bruxas

Nos anos de 2011 e 2012, André Sarturi desenvolveu sua pesquisa de mestrado com larp no Programa de Pós Graduação em Teatro, na UDESC - Universidade do Estado de Santa Catariana, orientado pela Professora Doutora Beatriz Ângela Vieira Cabral.

Quase que por um lapso, só fui ter contato com seu trabalho no ano seguinte, após sua publicação. Os trabalhos do NpLarp e do Boi Voador começaram também 2011 - e na época, perdemos a oportunidade de "trocar figurinhas". A leitura de sua dissertação me impressionou pela consistência do trabalho desenvolvido teórica e praticamente - e também pela farta documentação anexa. A interface com o Drama Processo foi novidade para mim. Mas se o referencial teórico do teatro foi uma grata surpresa, senti a falta do referencial específico sobre o larp. Àquele tempo, Sarturi tinha tido muito pouco contato com a produção internacional do larp, seja prática ou mesmo teórica, e nenhum com nossas pesquisas aqui em São Paulo.

No trabalho intitulado "Quando os dados (não) rolam: Jogo, teatralidade e performatividade na interação entre o ROLEPLAYING GAME e o Process Drama" Sarturi usou o texto Bruxas de Salém (The Crucible) do dramaturgo norte-americano Arthur Miller como ponto de partida para criar uma analogia à própria ilha de Santa Catarina nos tempos presentes. Comunidades religiosas, organizações autônomas femininas e especulação imobiliária foram alguns dos temas que pegaram impulso no texto de 1953.

A trajetória dele com o Larp começa em Curitiba em 1994, por meio dos jogos de RPG. Após tomar contato com o larp no Encontro Internacional de RPG daquele ano, em Curitiba, com a presença de Mark Hein*Hagen, Sarturi passou a criar dentro da linguagem, rapidamente abandonando o universo dos jogos de RPG e enveredando por suas próprias criações, muitas delas com inspiração literária. Por anos, Sarturi e o grupo que fazia parte, Enigma, exploraram a linguagem em ambientes públicos e abertos, assim como fazem a Confraria das Ideias e o Boi Voador em São Paulo - mas as investigações em Curitiba foram em outro sentido. Ali era comum alguns larps durarem dias e não horas. Infelizmente, não houve qualquer tipo de documentação (ainda) dessa história - e todo referencial teórico específico do larp que encontramos na dissertação vai pouco além dos livros de RPG da série Vampiro: A Máscara, publicados entre 1994 e 2002.

Agora, 5 anos após a conclusão da pesquisa, revisitaremos juntos a Ilha das Bruxas, cruzando nossas experiências e perspectivas. Nesta nova adaptação, somaremos à investigação original o acúmulo do próprio Apenas um Jogo, em uma montagem para apenas algumas horas, fazendo uso também das técnicas e composições do nosso atual repertório, mas sempre buscando diálogo com os materiais de referência - seja o fato histórico de 1692 em Salém, a peça teatral de 1953, o filme de 1996, o larp-processo de 2012 e, sempre, inclusive honrando o sentido original de The Crucible, os tempos em que vivemos.


OUT/ Ilha das Bruxas 
dia 29 de outubro, domingo - 14h00 / Sala de Convenções Grande

Baseado na peça "As Bruxas de Salém", de Arthur Miller, o larp criado por André Sarturi se passava em uma ilha, análoga a ilha de Florianópolis, nos tempos atuais. Temas da peça como a perseguição, a disputa por terras, a religiosidade e outros eram retrabalhados à luz da realidade brasileira.

Sarturi desenvolveu o tema em seu mestrado, concluído em 2012. Na ocasião, produziu uma interface entre o larp e o Drama Processo, resultando em um larp dividido em episódios, com o recursos cênicos.

Nessa nova edição, Sarturi se junta ao produtor e educador Luiz Falcão, refletindo as experiências vividas durante o desenvolvimento do mestrado e as influências da cena paulistana a internacional nos aspectos contemporâneos da linguagem. Os episódios se transformam em capítulos e as experiências mais significativas são transformadas em mecânicas de jogo.

A nova edição de “A Ilha das Bruxas” acontece em uma única tarde, dentro da programação Apenas um Jogo.

A partir de 16 anos.

link: evento no site do Sesc
link: evento no facebook

André Sarturi foi produtor de larps nos anos 1990 e 2000 em Curitiba, onde organizou mais de 20 larps no período para o grupo Enigma. Bacharel em filosofia, é mestre em Artes Cênicas pela UDESC (Florianópolis) com o tema "Jogo e Teatralidade na Interação com o Roleplaying (larp) e o Process Drama", tendo desenvolvido ampla pesquisa prática baseada em larp.

Hoje, é professor de pós graduação no IPGEX - Instituto de Pós Graduação, e doutorando pela Unicamp, onde pesquisa estratégias de convite a participação do público em dança, teatro e performance.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ciência da Morte, um mod de "Os Anatomistas de Babel"

Em março de 2015, o game designer Ygor Speranza publicou sem muito alarde um jogo com ares cômicos no grupo Indie RPG no facebook. Com certa inspiração em As Extraordinárias Aventuras do Barão de Munchausen, Os Anatomistas de Babel logo foi parar no larpbrasil.blogspot.com e depois no Cardápio que organizei primeiro para o Sesc Bauru e então para circular em toda a parte.

Em Agosto de 2016, eu levei Os Anatomistas de Babel para FERVO na Funbox Ludolocadora, para jogá-lo pela primeira vez. A pedido do Ygor Speranza, escrevi um relato (ou seria uma análise?) sobre a experiência que pode ser lido no blog do FERVO.

Anatomistas de Babel, de Ygor Speranza, durante o FERVO em São Paulo, na FUNBOX. Foto de Jaime Daniel Rodríguez Cancela

Um dos jogadores, o Guilherme Leandro de Cicco, criador do Boardgame The farm Heist, estava jogando larp pela primeira vez - e as mecânicas de Anatomistas..., somadas a seu repertório de game design acabaram incentivando-o a criar sua própria versão do jogo. Um ~mod~ por assim dizer.

Em Ciência da Morte, os jogadores encarnam investigadores forenses diante dos restos mortais da vítima de um crime hediondo - e devem determinar a causa da morte e debater sobre as condições nas quais o corpo foi encontrado.

Ciência da morte pode ser baixado aqui.