quinta-feira, 26 de maio de 2016

Edularp, dois caminhos possíveis

Na onda de registrar aqui os frutos de bate-papos e discussões dispersas pela internet, esta postagem foi extraída de diálogo com Arthur Barbosa no grupo Estudos sobre RPG, ontem do facebook.

2. No caso de aplicações de larp em sala de aula/escola, o que eu posso fazer pra produzir um bom larp ... ? 

Olha, vou tentar ser sucinto. Bem sucinto :D
Eu vejo dois caminhos principais para se trabalhar com larp num processo educativo, em sala de aula.

Um é o que o Rafael Rocha expôs: você leva o larp pronto para ser jogado com os educandos.

O Rocha mesmo publicou um livro voltado para isso pelo Narrativa da Imaginação, o Edularps.

No caso, o formato que ele usa são os roleplaying poems - que são bacanas para abordar temas pontuais. Tem um bom número desses jogos lá no larpbrasil.blogspot.com (e eu pretendo subir mais em breve).

Mas não é o único formato que dá para trabalhar nesse contexto. Qualquer larp, para abordar qualquer tema, pode ser levado dessa maneira. (Chamber Games, Jeepforms, freeforms... qualquer coisa ;) )

O Seekers Unlimited (RIP ) havia disponibilizado um ou dois roteiros com tema histórico. Mesopotamia é um deles. (por algum motivo obscuro, não estou conseguindo acessar os links).

Outra estratégia muito interessante é construir o larp, do princípio, com os alunos.

Esse vídeo da Confraria das Ideias dá uma boa ideia de como isso pode ser feito:

larp Confraria das Ideias (video 2007) from Confraria das Idéias on Vimeo.

E adicionalmente eu gostaria de contar uma historinha.

Em 2004 eu estava fazendo ensino médio no CEFET-SP (hoje ITF-SP) e a professora de sociologia propôs pra gente um julgamento fictício. Nossa turma escolhia a personalidade a ser julgada. Lembro que uma das turmas escolheu julgar o Fidel Castro. Minha turma escolheu julgar o Tio Patinhas. (O "tema" era Capitalismo X Socialismo... não sei se por determinação da profa. ou por influência da turma... já faz mais de 10 anos).

Um aluno representaria o réu, os demais seriam os advogados, as testemunhas e o Juri. Lembro que alguém representou o Wall Disney, mas também houve quem representasse o Huguinho, o Zezinho... e eu fui o Luizinho. Os Irmão Metralha também foram chamados a depor.

A turma que julgou o Fidel usou uma edição da Forbes como prova!

Minha professora, a Vânia, não sabia o que era larp. Provavelmente não sabe até hoje...

Mas o que nós fizemos naquele julgamento foi jogar um larp muito doido.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sexta-feira treze

Quando demos por encerrado o trabalho criativo em O Jogo do Bicho, em 2014, eu e o Prado rascunhamos nossa próxima criação conjunta para o Boi Voador. Esse larp se passaria em um futuro distópico, apenas alguns anos no futuro, numa versão do nosso país que passou em pouco tempo por profundas reformas conservadoras.

Imaginamos a ascensão meteórica de um candidato popular amplamente suportado pela mídia. (A corrida presidencial daquele ano nem havia começado).

Hoje, dois anos depois daquela primeira conversa, eu temo que nosso país hipotético esteja deixando de ser imaginação. Como sempre, a realidade consegue ser mais surpreendente do que a ficção - e eu olho para as notícias dos jornais com verdadeira inveja criativa do mundo real. Se tivéssemos inventado tudo isso para o nosso larp, diriam que estávamos forçando a barra.

Uma de nossas intenções era fazer um vídeo de contextualização, narrando as transformações sofridas de cá para lá. No estilo desse vídeo famoso da Rede Globo, mas mais curto.


Agora, corremos o risco, se demorarmos mais um pouquinho, de podermos coletar ao bel prazer esse vídeo já pronto - ready made - direto do youtube.

É melhor correr para terminarmos e estrearmos esse larp logo.


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Está rolando um novo ciclo de larp em São Paulo - e você não pode perder!

Não se deixe enganar pelo nome. O Ciclo de iniciação de larp não é só para quem está começando.

Realizado pela primeira vez no Sesc Ipiranga, ano passado, o Ciclo é uma curadoria de larps apresentada pelo Luiz Prado, certamente o mais ativo autor brasileiro de larps de nossos tempos.

Cartazes do Ciclo de iniciação ao larp do Sesc Ipiranga, 2015

Compondo uma programação com duração de um mês, com um encontro por semana, o Ciclo apresenta uma seleção de larps que podem ser jogados isoladamente ou em conjunto. Isoladamente, cada larp é uma experiência única, inteira e completa. Em conjunto, eles constituem mais que um comentário sobre a linguagem - eles dão conta quase, pode-se dizer, de um processo de formação.

Mas não se deixe enganar pela aparente complexidade. O Ciclo de iniciação de larp também é para quem está começando.

Larps do Ciclo do Sesc Itaquera


Não. O Sesc Itaquera não será invadido por cavaleiros medievais ou vampiros, nem será transformado em uma nave espacial (não dessa vez!). Os larps selecionados são experiências mais intimistas, pessoais. Todas estão ligadas de alguma maneira ao mundo ou ao imaginário contemporâneo e lidam com temas que estamos habituados em maior ou menor grau. Todos os jogos são de autoria de Luiz Prado, e quem já participou de um larp do autor vai reconhecer seu estilo.

Cartazes já divulgados do Ciclo do Sesc Itaquera
Letícia Freire - 1/mai
O primeiro larp do ciclo foi uma estréia. Letícia Freire foi lançado no mesmo dia no site do Boi Voador e os participantes ganharam uma versão impressa do manual. Este jogo propõe uma experiência multimídia e fragmentada, onde os jogadores se reunirão para representar em duplas uma entrevista para um documentário sobre a personagem título. No final, todas as entrevistas serão unidas criando um pequeno documentário. Os jogadores, no entanto, não combinam nada entre si sobre Letícia Freire - e a unidade é garantida na base do improviso, por um pequeno fio condutor que passa, como um telefone sem fio, de uma entrevista para a outra. O resultado é tão interessante quanto surpreendente!

Sê um viajante numa noite de inverno - 8/mai
Jogo de 2015 ganhou uma versão vespertina em sua edição no Sesc Itaquera. Aqui, cada jogador representa uma versão de si mesmo que, por algum motivo, abandonou tudo e se tornou um viajante. Você deve pensar no que o fez largar tudo, no que deixou para trás e em algo que mudou sua perspectiva diante da vida, depois de começar sua jornada. Então, todos os viajantes se encontram numa noite tarde de inverno ao redor de uma vela para tomar uma bebida quente e conversar sobre suas jornadas até que o fogo se apague. Os participantes também ganharam uma versão impressa do manual.

Três Homens de Terno - 15/mai
É um exercício em torno da linguagem. Em Três Homens de Terno os jogadores se reúnem em torno de um poema algo abstrato e discutem possibilidades de narrativa e estrutura de jogo. Parte está, é claro, sugerido no próprio poema, parte será completada pelo grupo de jogadores. É o próximo larp do Ciclo que acontecerá domingo que vem e eu tenho esperança que aproveitemos o cenário político como estímulo para, pelo menos, algumas de nossas propostas ;)
Também receberemos uma versão impressa do "poema".

Uma tarde no museu - 22/mai
Realizado pela primeira vez no MAC, Uma Tarde no Museu é um convite interessante à reflexão sobre a autoridade e o nosso olhar para a arte e para o outro. Recriando um ambiente de um exposição, os jogadores se dividem em 3 grupos: um será uma obra de arte, outro, um mediador do museu e os demais visitantes. O manual do jogo também ganhará uma versão impressa nessa ocasião.

Morte ao artista - 29/mai
Em 2015, o Ciclo do Sesc Ipiranga terminou com o larp monstros. Era um larp inédito, sobre o qual pouco sabíamos, mas tinha a promessa de ser uma experiênica mais intensa e mesmo mais elaborada que as outras. E foi. O larp ganhou uma segunda edição pelo grupo Boi Voador. Morte ao Artista é o monstros do Itaquera. O larp repreduzirá um pequeno teatro - com alguns jogadores na posição da platéia e outros no palco - e com a ajuda de tomates, sim, tomates, operará a crítica à figura do artista moderno.

Palestras de abertura


Além dos larps, em quatro dessas datas, eu apresentarei, abrindo a programação de larp do dia, às 11h30, uma pequena palestra seguida de bate-papo cujos objetivos são aguçar a percepção, ampliar o interesse e promover a reflexão sobre as práticas que virão em seguida.

1/5 - O que é larp
8/5 - Jogo ou Arte
22/5 - O Larp Político
29/5 - O artista pesquisador em larp

O Sesc Itaquera


Um dos maiores centros culturais da cidade, o Sesc Itaquera fica em maio a uma área de preservação ambiental. Em seus mais de 350.000 m² ele abriga um centro esportivo, lago, parque aquático e muitos outros espaços destinados a todo tipo de programação cultural. Entre estes, encontra-se o ETA - Espaço de Tecnologias e Artes que em 2016 está trazendo diversas programações na linguagem do larp.


 O Sesc Itaquera fica localizado ao lado do Parque do Carmo, na Av. Fernando do Espírito Santo Alves de Mattos, 1000. A melhor opção para chegar ao Sesc é ir até a estação Itaquera do metrô e tomar o ônibus Gleba do Pêssego, que sai do terminal anexo à estação.

Os larps começam às 14h e vão até as 17h.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Três anos atrás eu estava no labJogos

postado originalmente no facebook em 6 de maio de 2016

Três anos atrás eu estava no labJogos.

Foi uma oportunidade incrível de expôr nosso trabalho e conhecer o trabalho de outros tantos articuladores, guerrilheiros, da arte participativa nacional.

Eu pude conhecer pessoas maravilhosas cujos trabalhos e trajetórias eu só conhecia pela internet. Gente como o Eduardo Caetano, Rafael Rocha, John Bogéa, Newton Rocha Nitro... e conhecer tantas outras pessoas igualmente maravilhosas como o Jairo Borges Filho, Chico Lobo Leal, João Pedro Torres e tantos outros.

Alguns eu só fui conhecer melhor no ano seguinte (como o Manuel Gomes).

Foi também oportunidade de reencontrar o Encho Vinícius Chagas, com quem eu tinha trabalhado anos atrás em SP - e que um mês antes eu jamais poderia imaginar encontrá-lo nesse cenário.

E, claro, uma enorme felicidade ao encontrar o Goshai Daian e o Krishna Farnese - que já faziam larp naquela época e que possibilitaram a apartir dali infinitas trocas. Desses encontros surgiram coisas maravilhosas, entre as quais o grupo Larp Brasil aqui no face. Foi quando conheci também, em Belo Horizonte, o paulista Jonny Garcia. Naquela época, ele já tinha organizado um larp - mas foi uma experiência isolada. Lembro que ele devorou o Guia de Larp que eu escrevi para o NpLarp durante uma palestra e depois veio falar comigo, com a cabeça visivelmente "explodindo" :D

Na volta para São Paulo, nos aproximamos bastante e eu tive a oportunidade de trocar muita coisa com ele e estar junto dele na realização de muitas coisas maravilhosas - em especial o LabLarp, um grande marco do larp em São Paulo.

'Cabou que o Jonny se tornou um dos grandes autores brasileiros. Hoje, mora no Canadá, onde eu fico feliz também por tê-lo apresentado a Mo Jave - o que o levou ao grupo de Nordic Larp de Hamilton onde ele continuou jogando e produzindo! Ah, essa chama inestinguível! heheheh. O Jonny voltou para o 3° LabJogos em 2015 trazendo dois jogos inéditos, desenvolvidos no Canadá, mais maduros que os que ele fez por aqui em 2013. Tive a felicidade de jogar ambos :D

Nada disso seria possível, é claro, sem a parceria inesgotável, inabalável e incomparável do Luiz Prado que desconfiava da ida ao primeiro labJogos, mas que está sempre pronto para embarcar nas jornadas do larp comigo, mesmo correndo o risco de ser "mais uma presepada". Não foi. O laboratório "mudou nossa vida e o larp nacional", nas palavras dele mesmo :D

Gratidão infinita, absoluta... e a certeza de que, independente dos altos e baixos da jornada, seguiremos em frente. De cabeça erguida, de punhos cerrados, abrindo caminho e reunindo pessoas. Porque é disso que a nossa arte é feita: pessoas reunidas.

E eu celebro a felicidade de ter um parceiro para todas as horas nessa jornada incrível, alucinante e desgastante que tem sido levar o larp a todas as partes, todos os lugares, todas as pessoas.

Um abraço especial para todos que fizeram e fazem parte dessa história, em especial para o outro dos "Luizes" (como ficamos conhecidos dali em diante):

Desistir nunca, recuar jamais!