segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Larp - Qual é a nossa construção para o fantástico?

essa postagem foi escrita em setembro de 2007 para o blog do fabulário e nunca havia sido publicada.  vai soar estranho para quem conheceu a confraria das ideias a partir de 2009.

Recentemente, tive a oportunidade de participar de mais um live-action da Confraria das Idéias, no trabalho que estão realizando nas Bibliotecas municipais.

Desta vez, encarnei um Senhor-Feudal, "líder" de um povo assombrado por pragas. Sem motivo aparente, meu personagem convida o povo para seu castelo - muitos camponeses não vão, com medo do que isso pode significar em tempos como aqueles. Da mesma forma, muitos são atraídos, esperando um grande banquete e, lógico, a oportunidade de levar, na surdina, algo de valor.

Secretamente, eu guardava comigo (e levava ao pescoço) um medalhão amaldiçoado, que estava na minha família há gerações) - a quem o usava ele trazia enorme poder, sucesso e sorte nas conquistas, mas ele cobrava seu preço. No melhor estilo o Um anel, ele enlouquecia seu portador, e por fim traria a desgraça para seu reino. Como não poderia deixar se ser, seguindo outros chavões inevitáveis (hora, era um live para crianças e pré-adolescentes!), o nobre Senhor que eu interpretava havia atirado-se às graças do medalhão na esperança de trazer sua amada esposa de volta a vida (e isto nunca aconteceu). Mais clássico impossível!

Ciente disso, meu personagem promoveu a tal festa no intuito de passar sua maldição a diante.

História vai, estória vem... nos momentos finais o medalhão foi entregue a um "vassalo das terras do leste" - um jogador muito legal que interpretava a mesquinharia em pessoa. No início, por ter descoberto a verdade, tentou negar o presente, mas tendo ele em mãos sucumbiu quase que imediatamente a seu poder! Ergueu o colar e todos no castelo tombaram inconscientes.

Os organizadores recolocaram todos na mesa central, onde o jogo havia começado - e me orientaram a me apresentar novamente, como havia feito no princípio do Live, quando todos acordassem. Afinal, havia sido tudo um sonho? Uma alucinação coletiva? Mas onde estava o tal vassalo que entrara no castelo com todos? E o medalhão que o Senhor (meu personagem) levava no pescoço - de fato não era o mesmo, mas - o que significava?

O live terminou assim, com um clima meio desesperador de "oh meu deus, quem ele escolherá agora"!? Alguns jovens jogadores, desnorteados, perguntavam "mas foi só um sonho" - e as palmas rapidamente combriram as vozes destes...

Sem dúvida, é sempre divertido um live dos Confrades, inclusive estes produzidos junto com os alunos, nas oficinas gratuitas da prefeitura. Esse live tinha uma promessa especial: uma veia de fantasia (a última narrativa com fundo fantástico que vimos em um live da Confraria foi Triunfo e Tormento, no iníco do ano, e antes talvez só mesmo o Loucura, Uma face da mente)

A construção narrativa do acontecimento sobrenatural que pensamos (ou duvidamos que) possa se tratar de um sonho é uma remontagem da literatura Fantástica do século XIX - e de fato, hoje e no atual contexto, pode não soar tão pertubador ou instigante quando aos nossos amigos positivistas do passado. Sem dúvida, isso (esse cuidado com não extrapolar barreiras) serviu como introdução para a grande maioria dos jogadores (quase todos com menos de 12-13 anos, creio) e espero que também como retomada para as investigões nesse sentido por parte da Confraria das Idéias.

Resta também uma dúvida mais salgada (e menos pertinente a este trabalho em específico): esse modelo do século XIX tem hoje a mesma força que a 150 anos atrás?

Se essa construção é uma correspondência (e resposta) direta ao pensamento cientificista da sociedade da época, qual é a nossa construção? E a nossa correspondência? (não respondam...) E afinal, isso invalida a boa e velha contrução do fantástico (em oposição ao maravilhoso)?