sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para não dizer que não falei das flores

Collage seria a justaposição e colagem de imagens não originalmente próximas obtida através da seleção e picagem de imagens encontradas ao acaso em diversas fontes
- Renato Cohen (Performance como linguagem, 2004. pg60)
Faz bastante tempo já que eu tenho vontade de fazer umas postagens sobre o meu TCC, que estou realizando este ano (e espero conseguir realizar definitivamente este ano).

Como o tempo estava escasso para fazer uma postagem mais polpuda e elaborada, ou como eu não me programo para isso, decidi fazer uma postagem logo de uma vez, ainda que ela não me agradasse tanto ou fizesse jus a meu carinho pelo projeto. Como carinho não é igual a comprometimento, essa postagem pode servir um pouco também para adiantar algumas coisas no segundo sentido. Organizar.

Abaixo, segue uma apresentação que eu preparei ainda no semestre anterior, que corresponde a visão mais "acabada" e adiantada sobre o projeto e as reflexões que o envolvem. Claro que é tudo muito resumitivo, mas funciona de índice, de referência, para "dar corda" ao restante da pesquisa ou reflexão.



Algumas coisas já mudaram de lá para cá (menos o artigo de pretensas 15 páginas, que fica no passado até mesmo em relação apresentação de slides). A questão documental/fraude provavelmente será substituída por uma afirmação da obra como proposição ficcional. Nada lido nesse sentido ainda. Aliás, atraso é o subtítulo do meu TCC atualmente. Estou tentando trocar para "correndo-atrás".

retrato 1 - versão 1

COMENTÁRIO: Esse vídeo foi captado um pouco no susto. Estava tentando fazer um teste utilizando eu mesmo como modelo, mas era impossível me dirigir. Pirei e liguei para um amigo meu que tinha carro. Por sorte, ele tinha disponibilidade de ir naquele momento mesmo. Captei em um plano mais aberto e um close no rosto (este, final). No plano mais aberto apareciam também a mesa, de mármore, e uns livros, mas o cenário não ficou bem composto. Neste enquadramento escolhido o fundo fica ligeiramente indefinido, não muito claro. Além de entrar em forte contraste com o a xícara de nescafé. De certa forma isso colabora para um tom de "estranhamento" (essa palavra tão vulgarizada), de suspensão.

Fiz a captação um pouco às escuras e tive dois problemas:
1- Captação separada da boca ficou se mexendo, tive que tentar estabilizar no after-effects enquanto aprendia a mexer no programa. Vocês podem ver que a sincronia entre o movimento dos "olhos" e do rosto como um todo não está 100%.
2 - Os olhos apareciam por trás dos óculos escuros. Para resolver isso, joguei uma camada de ajuste sobre os óculos. No entanto, o tracking também não ficou 100%, se você é um desses caras que prestam atenção, vai ver que a "sombra" que há sobre os óculos, se move um pouquinho, invadindo vez por outra o rosto do modelo.

O modelo aqui é o Rafael Araújo de Castro, estudante de filosofia (e outras coisas aí também). Algumas pessoas quando vêem ou ouvem a descrição do vídeo dizem na lata "Coríntio", que é um personagem do escritor norte-americano Neil Gaiman. É... o Neil também tem um sujeito com "bocas nos olhos" e sim, eu o conhecia. Sabia que ele foi certa vez a uma convenção de serial killers. Pouco além disso. Outra pessoa que se aventurou nessa seara de bocas no lugar dos olhos foi a artista plástica Jessica Harrison, também britânica. Se bobear, ela também conhecia o Coríntio... Quem quiser conhecer, veja o vídeo sem título (moutheyes, para alguns) e navegue no site da artista, porque vale a pena.

A faixa de som ainda não está fechada. E mesmo o tracking, quero ter oportunidade de tentá-lo refinar ainda mais.


retrato 2 - versão 2

COMENTÁRIO: O segundo vídeo eu achei que ia dar mais trabalho. Devia ser inspirado no trabalho do surrealista Hans Bellmer. Para tanto, queria uma modelo nua, que ficasse sobre um colchão. Eu faria fusão para gerar a imagem pretendida no final e não aparecia rosto ou seios ou mesmo braços. Na época eu estava casado e a ordem foi clara: nua não. Ok, nua não. No fim das contas, a calça jeans trouxe um valor curioso para o trabalho. Um certo tom de pantomima (no sentido pejorativo mesmo), que soa sinistro junto a proposta. Algumas pessoas comentaram dos dois lados da "criatura" estarem vestido calças idênticas, disseram que podia ter feito uma variação. Podia mesmo, pensei na hora. Mas depois de mais alguns comentário s(todos negativos, aliás), pensei que isso ajudava a dar uma certa atmosfera para o trabalho. Justamente uma atmosfera de fraude mal-feita, uma evidência de que se trata de uma montagem. Isso pode reforçar o que eu digo sobre não se pretender ilusório ou enganador, mas uma "proposição ficcional". Seja como for, tenho que ler sobre isso, para não ficar só no lero-lero (se tiverem indicações, por favor, deixem nos comentários).

Usei um acetato sobre o monitor LCD da câmera com a qual eu captei para marcar a posição da primeira tomada. Depois, dirigi a modelo para se encaixar nessa posição. No fim das contas, fiz a montagem muito facilmente, com uma máscara desfocada. Não podia imaginar que ia ser tão simples e queria pensar que tudo que parece difícil é igualmente simples assim.

Aqui eu usei iluminação artificial também, como no anterior, mas me preocupei em ser menos direta. Também mexi na luz, cores, shadow/highlight (uma relação bizarra entre luz e sombra que deixa a imagem esquisita) para dar uma aparência diferente da captação convencional. Irônico que isso deixou o vídeo com mais cara de caseiro do que o outro, onde eu não fiz ajustes depois da captação.

Os dois vídeos foram feitos na minha casa (no mesmo prédio onde moro hoje, mas em outro andar, então, a arquitetura é a mesma ainda).


O som, sobre todos
Ao exibir o segundo retrato em sala de aula, no sétimo semestre, percebi uma potência que ainda não tinha me dado conta. Neste vídeo, pode-se ouvir (em duas faixas de som, inclusive) eu passando instruções para a modelo. Isso deu um tom macabro a coisa. Há, neste caso, evidentemente, um diretor. A presença dele está dada no vídeo, e não disfarçada. Ela faz-se notar. É um pouco do que acontece também no 7 graces for a boy, vídeo do Wagner Morales selecionado para o 10° Salão da Bahia. Neste vídeo, ele faz umas trucagens bobas de vídeo e "disfarça" esses truques com auxílio da faixa de som. O resultado é um vídeo ingênuo e divertidíssimo, mas bastante sagaz.

No caso de 7 elefantes essa voz do diretor vem ressaltar um caráter de exposição inerente ao vídeo. O sujeito está lá assistindo, tem um cara dirigindo, os dois estão cúmplices na visualização, exposição e exploração dessas imagens. Enfim, vídeo, voyerismo, essas coisas. Algo me diz que tenho que ler mais sobre isso também (mas não estava querendo ler nada que tenha a ver com cumplicidade, para falar a verdade).

Se tudo der certo, hoje, vou captar mais um vídeo. O quarto. Depois falo sobre o terceiro. Torçam por mim!

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