terça-feira, 27 de outubro de 2009

Apolo 11, devastação da terra e colônias espaciais...

Quem acompanha meus outros Blogs já viu, no fabulário, ou na confraria mas ficou faltando colocar nesse.

Tem tempo que eu quero mexer com vídeo, com edição e narrativa. A idéia da fazer um trailer para um live-action da Confraria das Ideias, ONG da qual faço parte há uns 2 ou 3 anos, foi uma oportunidade de realizar esse exercício.




Passei praticamente uma semana no vídeo, entre captar meu relógio de pulso, escolher a trilha sonora adequada, recolher e converter os vídeos adequados. Seja como for, não teria feito nada disso sozinho, todas as escolhas e direcionamentos foram dados pelos confrades. Como eu costumava dizer, sou um pinguim: sozinho não posso nada, não faço nada, mas em grupo, estamos aí. A trilha sonora foi escolha do Confrade Paulo, se não me engano, as imagens de filmes foram sugestão do Confrade Godoy, o roteiro, baseado no release escrito por este mesmo Confrade. Da minha parte, assim, num sentido minimamente autoral, foi o lance do relógio.

Para falar a verdade, o resultado final não me agradou muito. Coisa de quem está apredendo, eu acho: não domina a linguagem, nem os recursos, e a coisa sai toda estranha, com letreiros imensos, cortes hesitantes e ritmo encasquetado.

Mas não é que ficou uma estorinha de FC bacana? Melhor que isso só o live mesmo, com direito a máquina do tempo chupinhada de La Jeteé, pessoas duplicadas através do tempo e ataque de monstros em tempo real (no meio da neblina espessa! LOUCO!).

Confiram as fotos no Blog da Confraria. Quem sabe um dia a gente não solta um vídeo também, como o que fizemos com o Faroeste.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

bicicleta nova + luiz = vergueiro, liberdade - sé - anhangabaú - tiradentes - cruzeiro do sul.... e as chaves?! ou como fui parar na goma alheia às 2h

Começou na quarta-feira. Decidido por fim como, qual e onde comprar minha primeira bicicleta da maioridade. Ligo impetuoso para muitos lugares. Fecho a compra na total bike, que tem uma loja perto do serviço, na rua Cubatão. Só que liguei e fechei o pedido na loja errada, de Santo Amaro. Muito generosamente, Ricardo, o simpático atendente da loja da Cubatão conversa com seu correspondente Caio e combinam de enviar a bicicleta para cá no dia seguinte, quinta-feira. Com isso, perdi o melhor dia da semana para ir pedalando de bicicleta do meu serviço para minha casa, na zona norte (é, acredita que tem gente que achava loucura?). Ok, reprogramo-me para quinta-feira. Teria que deixar umas coisas no serviço, mas valia a pena.

(Estava, afinal, ansioso e vidrado na minha tão sonhada Andes, amarela e cinza, com suspensãozinha dianteira.)

Quinta-feira tinha combinado de ensaiar com o Will. William Araújo Barreto, 33 anos. Faz faculdade comigo e é o último nome que citarei por inteiro nesse relato. O trabalho dele vocês podem ver abaixo (quer dizer, um trecho do 1° ensaio apenas), ele me convidou para realizá-lo em dupla com ele e para mim é uma grande oportunidade participar. Tem me motivado bastante mesmo com as escoriações decorrentes dos ensaios.



Para isso, fui carregado de roupas, tripé e câmera fotográfica para o serviço. 3 volumes ao total, grandes e pendurados pelo corpo. O plano era deixar essas coisas no meu armário. Tem gente que fica encabulado de andar comigo quando estou assim parecendo um mochileiro. Não o Will. Ele me acompanhou até o serviço, para eu me trocar, deixar as coisas e pegar a bike. Depois acompanhei ele até um metro próximo. Esse meu amigo também anda de bicicleta, ficou empolgado ao ver a minha, querendo agitar pedaladas noturnas. Agitaremos!

Aí fui eu pedalando no circuito que intitula este relato. Só descida até o Anhangabaú. Mas, na região do metrô liberdade, eu fui descer de uma calçada rebaixada que me pareceu muito segura. Era, não fosse pelo buraco logo depois dela que eu não vi e portanto não levantei meu corpo do selim. Resultado: selim danificado! torto. Não desanimei, só preciso do selim para apoiar "tenho as pernas fortes".

Chegando na Sé, o telefone toca. N.A. (não citarei nomes, vamos lá, usem a mente!) me ligando. "Nossa, pensei que você nunca mais ia querer falar comigo. Que bom receber sua ligação!" Parei num lugar menos inseguro, com uma vista linda para a catedral da sé, vista de costas, e para um mendigo que dormia sereno há alguns metros de mim. Celular na mão. "Estava pensando em ir na sua casa hoje. aliás, estou no caminho". "hum.... segura aí que eu verificar uma coisa e já te ligo". Eu ia receber M.W. em casa naquele dia. Há um desafeto oblíquo (e dissimulado) de N.A. em direção a M.W. e tenho certeza de um encontro tornaria as coisas mais desafetuosas, senão tensas, senão definitivamente desagradáveis. Enfim, era absurdo. Ligo para M.W. que, ao contrário do que costuma acontecer, me atende. "Tá aonde?". "Meu, tou no terminal"."Que terminal?". "Pedro II, desculpa não ter ligado. É que hoje não dá mesmo, tentamos semana que vem". Azar o seu, o blog é seu e eu em vez de trabalhar de graça vou passar uma noite agradável, descansando horrores da pedalada! hunf! Ligo para N.A. e confirmo. "Te encontro no metrô Santana, estou indo de bicicleta".

Desci as ruas charmosas (ainda que fedendo a urina) da Sé e São bento. Cheguei no trecho que eu achei que não conhecia. Pedi informação para uns garis simpáticos que estavam por lá, cantando e dançando, tirando sarro um do outro. Ah, a vida noturna! E fui adiante. Mal sabia eu que conhecia muito bem a região, de milhares de ônibus que pago que passam por lá. Rapidinho estava na Av. Tiradentes.

Próximo a estação Luz, dei uma apoiada boa sobre o selim (subidinha cansou) e ele caiu de vez... a metade da direita. Pedalei até em frente a Rota, na avenida Tiradentes e fiquei tentando colocar o selim no lugar. Era apenas um encaixe de metal que tinha entortado um pouco e soltado de um outro encaixe. Fiquei alguns minutos forçando, até que passa do meu lado um sujeito simpático, de boné, oferecendo ajuda. Meio desolado solto um "pode ser". Ficamos lá forçando daqui, segurando dali. Nada. Descubro que ele estudou na ETESP e que estava querendo comprar uma Dahon, uma dessas bikes importadas, dobráveis, muito caras. Marcos é o nome dele. "Bem... acho que vou encarar um metrô". Foi o pensamento necessário para eu me encher daquela genialidade que atinge os aflitos, conectar meia dúzia de sinapses na minha mente e torcer o selim para forçar os encaixes. Torcer! E funcinou. Agradeci muito a ajuda do novo amigo e parti pedalando pela Tiradentes.


Na Região da Armênia, rua que eu andei durante três anos da minha vida, todo dia útil (embora fossem muitos deles bastante inúteis) eu percebi que o selim desencaixava novamente, toda hora. E fiquei nessa brincadeira de pedalar um pedaço e descer da bike outro pedaço, para arrumar o selim. Maior parte do tempo nesse percurso eu fui pedalando levantado, com o peso sobre as pernas. (Estranho não estar com as pernas latejando hoje... acho que, afinal, é um percurso pequeno). Na ponte que acompanha a linha do metro, ali sobre a marginal, eu resolvi dar uma relaxada. Desci da bike e fui caminhando, com ela do lado, até a ponte acabar. Pedalei mais do Tietê ao Carandirú, quando começou a garoar. Mancada! Desci novamente da bike um pouco depois do Carandirú. Até santana era uma caminhada pequena. Liguei para N.A.. "Onde você está?". "Tietê". "Nossa, estou na sua frente! Nos encontramos na catraca do metrô Santana então!". Cheguei lá são e salvo, molhado de chuva e suor, mas inteiro e feliz como uma criança (ahhhh, a endorfina) e arrumei o selim com calma. Tudo de volta ao lugar!

A minha história poderia terminar por aqui. Não termina.

O plano era simples: ir para minha casa de vagar, na garoa fina (agora já estava indo embora) a pé, levando a bike ao lado e com a companhia de N.A. Ela estava um pouco desanimada, eu, com endorfina até os cabelos, pingando. No caminho, um pequeno mar de sapatos novíssimos, mas sem par, jogados a própria sorte pela rua animou um pouco a jornada. Mais para frente, ao passar por um prédio bonitinho e com porteiro brinquei "Podia ser a qui a minha casa, né!?". É. Podia mesmo.

Chegamos na porta de casa e eu encaro por milésimos de segundos a fechadura. "Minha nossa!" pensei "Esqueci as chaves no serviço!". Na bolsa onde havia meu figurino da performance e a câmera fotográfica. IRONIA #1: M.W., que iria a minha casa naquela noite, possui cópias da chave da minha casa. IRONIA #2: N.A. estava com um grande amigo meu quando me ligou (e eu estava na Sé, lembra-se?) que também possui cópia da chave de casa e inclusive tinha sugerido de juntar-se a nós naquela noite.

Toco nos apartamentos vizinhos: ninguém atende. Ligo para um vizinho amigo meu, amigão mesmo: não atende. Amiga da N.A. que mora na região: sem condições. Hotel: que hotel? Só se for um daqueles inferninhos nos arredores do metrô, 30 reais / 3 horas. Nem pensar! Pensa, pensa, pensa. Já sei...

Era mais de 1 hora da manhã quando liguei para casa do A.B. (o que quer dizer que levei 2hs mais ou menos no meu conturbadinho trajeto). Caro leitor ocasional de minhas desventuras, se você chegou até aqui precisa saber: ainda bem que existem pessoas no mundo como o A.B.. E como N.A., que me disse, a caminho da casa do referido amigo "quando a gente faz uma merda muito grande por uma coisa que não vale a pena, nossos fiadores são os nossos amigos". Tudo vale a pena se a alma não é pequena, afinal. Claro que me refiro a bike, mas N.A. referia-se a outra coisa. Referimo-nos todos a coisas distintas, afinal. Qualquer impressão de entendimento não passa de um mal entendido.

A.B. tem esposa e um enteado. Naquele dia, tinha também acabado de comprar um cachorrinho (Valentina, o nome dela, veio nos acordar 4h20 da manhã!). Miojo, edredon no sofá, uma conversa para compensar o tempo distantes, banho e ainda brincar com um cachorrinho. É. Podia ter sido muuuiiiito pior. Agradeço aos fiadores, imensamente. Amigos, vocês serão recompensados! É uma promessa!

Minha bike ainda está lá, com o selim precisando de um reparo e eu não vejo a hora de vê-la de novo.

Fim da transmissão!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para não dizer que não falei das flores

Collage seria a justaposição e colagem de imagens não originalmente próximas obtida através da seleção e picagem de imagens encontradas ao acaso em diversas fontes
- Renato Cohen (Performance como linguagem, 2004. pg60)
Faz bastante tempo já que eu tenho vontade de fazer umas postagens sobre o meu TCC, que estou realizando este ano (e espero conseguir realizar definitivamente este ano).

Como o tempo estava escasso para fazer uma postagem mais polpuda e elaborada, ou como eu não me programo para isso, decidi fazer uma postagem logo de uma vez, ainda que ela não me agradasse tanto ou fizesse jus a meu carinho pelo projeto. Como carinho não é igual a comprometimento, essa postagem pode servir um pouco também para adiantar algumas coisas no segundo sentido. Organizar.

Abaixo, segue uma apresentação que eu preparei ainda no semestre anterior, que corresponde a visão mais "acabada" e adiantada sobre o projeto e as reflexões que o envolvem. Claro que é tudo muito resumitivo, mas funciona de índice, de referência, para "dar corda" ao restante da pesquisa ou reflexão.



Algumas coisas já mudaram de lá para cá (menos o artigo de pretensas 15 páginas, que fica no passado até mesmo em relação apresentação de slides). A questão documental/fraude provavelmente será substituída por uma afirmação da obra como proposição ficcional. Nada lido nesse sentido ainda. Aliás, atraso é o subtítulo do meu TCC atualmente. Estou tentando trocar para "correndo-atrás".

retrato 1 - versão 1

COMENTÁRIO: Esse vídeo foi captado um pouco no susto. Estava tentando fazer um teste utilizando eu mesmo como modelo, mas era impossível me dirigir. Pirei e liguei para um amigo meu que tinha carro. Por sorte, ele tinha disponibilidade de ir naquele momento mesmo. Captei em um plano mais aberto e um close no rosto (este, final). No plano mais aberto apareciam também a mesa, de mármore, e uns livros, mas o cenário não ficou bem composto. Neste enquadramento escolhido o fundo fica ligeiramente indefinido, não muito claro. Além de entrar em forte contraste com o a xícara de nescafé. De certa forma isso colabora para um tom de "estranhamento" (essa palavra tão vulgarizada), de suspensão.

Fiz a captação um pouco às escuras e tive dois problemas:
1- Captação separada da boca ficou se mexendo, tive que tentar estabilizar no after-effects enquanto aprendia a mexer no programa. Vocês podem ver que a sincronia entre o movimento dos "olhos" e do rosto como um todo não está 100%.
2 - Os olhos apareciam por trás dos óculos escuros. Para resolver isso, joguei uma camada de ajuste sobre os óculos. No entanto, o tracking também não ficou 100%, se você é um desses caras que prestam atenção, vai ver que a "sombra" que há sobre os óculos, se move um pouquinho, invadindo vez por outra o rosto do modelo.

O modelo aqui é o Rafael Araújo de Castro, estudante de filosofia (e outras coisas aí também). Algumas pessoas quando vêem ou ouvem a descrição do vídeo dizem na lata "Coríntio", que é um personagem do escritor norte-americano Neil Gaiman. É... o Neil também tem um sujeito com "bocas nos olhos" e sim, eu o conhecia. Sabia que ele foi certa vez a uma convenção de serial killers. Pouco além disso. Outra pessoa que se aventurou nessa seara de bocas no lugar dos olhos foi a artista plástica Jessica Harrison, também britânica. Se bobear, ela também conhecia o Coríntio... Quem quiser conhecer, veja o vídeo sem título (moutheyes, para alguns) e navegue no site da artista, porque vale a pena.

A faixa de som ainda não está fechada. E mesmo o tracking, quero ter oportunidade de tentá-lo refinar ainda mais.


retrato 2 - versão 2

COMENTÁRIO: O segundo vídeo eu achei que ia dar mais trabalho. Devia ser inspirado no trabalho do surrealista Hans Bellmer. Para tanto, queria uma modelo nua, que ficasse sobre um colchão. Eu faria fusão para gerar a imagem pretendida no final e não aparecia rosto ou seios ou mesmo braços. Na época eu estava casado e a ordem foi clara: nua não. Ok, nua não. No fim das contas, a calça jeans trouxe um valor curioso para o trabalho. Um certo tom de pantomima (no sentido pejorativo mesmo), que soa sinistro junto a proposta. Algumas pessoas comentaram dos dois lados da "criatura" estarem vestido calças idênticas, disseram que podia ter feito uma variação. Podia mesmo, pensei na hora. Mas depois de mais alguns comentário s(todos negativos, aliás), pensei que isso ajudava a dar uma certa atmosfera para o trabalho. Justamente uma atmosfera de fraude mal-feita, uma evidência de que se trata de uma montagem. Isso pode reforçar o que eu digo sobre não se pretender ilusório ou enganador, mas uma "proposição ficcional". Seja como for, tenho que ler sobre isso, para não ficar só no lero-lero (se tiverem indicações, por favor, deixem nos comentários).

Usei um acetato sobre o monitor LCD da câmera com a qual eu captei para marcar a posição da primeira tomada. Depois, dirigi a modelo para se encaixar nessa posição. No fim das contas, fiz a montagem muito facilmente, com uma máscara desfocada. Não podia imaginar que ia ser tão simples e queria pensar que tudo que parece difícil é igualmente simples assim.

Aqui eu usei iluminação artificial também, como no anterior, mas me preocupei em ser menos direta. Também mexi na luz, cores, shadow/highlight (uma relação bizarra entre luz e sombra que deixa a imagem esquisita) para dar uma aparência diferente da captação convencional. Irônico que isso deixou o vídeo com mais cara de caseiro do que o outro, onde eu não fiz ajustes depois da captação.

Os dois vídeos foram feitos na minha casa (no mesmo prédio onde moro hoje, mas em outro andar, então, a arquitetura é a mesma ainda).


O som, sobre todos
Ao exibir o segundo retrato em sala de aula, no sétimo semestre, percebi uma potência que ainda não tinha me dado conta. Neste vídeo, pode-se ouvir (em duas faixas de som, inclusive) eu passando instruções para a modelo. Isso deu um tom macabro a coisa. Há, neste caso, evidentemente, um diretor. A presença dele está dada no vídeo, e não disfarçada. Ela faz-se notar. É um pouco do que acontece também no 7 graces for a boy, vídeo do Wagner Morales selecionado para o 10° Salão da Bahia. Neste vídeo, ele faz umas trucagens bobas de vídeo e "disfarça" esses truques com auxílio da faixa de som. O resultado é um vídeo ingênuo e divertidíssimo, mas bastante sagaz.

No caso de 7 elefantes essa voz do diretor vem ressaltar um caráter de exposição inerente ao vídeo. O sujeito está lá assistindo, tem um cara dirigindo, os dois estão cúmplices na visualização, exposição e exploração dessas imagens. Enfim, vídeo, voyerismo, essas coisas. Algo me diz que tenho que ler mais sobre isso também (mas não estava querendo ler nada que tenha a ver com cumplicidade, para falar a verdade).

Se tudo der certo, hoje, vou captar mais um vídeo. O quarto. Depois falo sobre o terceiro. Torçam por mim!