sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Stardust - O mistério da estrela


Essa postagem vem no intuito de deixar um registro (mais para mim mesmo) do que eu tenho lido. O mínimo de anotação que eu puder colocar é uma vantagem já.

Acabei de ler Stardust, do Neil Gaiman. Parece que o livro foi escrito entre 1991 e 1998. No final, só o Neil Gaiman "assina", mesmo tendo lá as ilustrações do
Charles Vess.

Um ponto positivo: Por vezes, Gaiman narra algum fato com descrença: "dizem que....". Bola aí inúmeras imagens de encher os olhos, histórias fabulosas, absurdas inacreditáveis e, sem dúvida, fantásticas. Depois, não dá crédito, diz que é só uma história, que não se sabe se é verdade.

Um ponto negativo: a descrição bucólica e infantil da natureza, dos animais, etc. É repetitiva, ingênua, cansativa, sem brilho algum... só a redundância sem graça.

Palavras escorregadias: em muitos trechos, a leitura é tão fácil que quase não se consegue parar de ler. Veja, eu não coloquei isso como ponto positivo (nem negativo).

Várias estórias: o livro tem alguns eixos narrativos, como uma novela. E quasde que podemos dizer: para públicos alvos diferentes. A jornada de Tristan é bem bobinha e pré-adolescente, com passagens cansativas, "enrolonas"... (cheguei a sentir que estava perdendo tempo). A estória dos sete irmãos, filhos do Senhor das Tempestades, me pareceu mais inteligente e madura, com um ar perspicaz e um "q" de quebra-cabeça. A outra grande estória do livro é das irmãs bruxas, que passa um pouco mais apagada e batida, então mais difícil de sentir para onde estava apontando (mas que também não é tão ingênua quanto o eixo principal).

O mundo é mágico: Gaiman recorre a vários lugares comuns da tradição dos contos de fadas e histórias de magia. Mas isso não é ruim, muito pelo contrário. Ajuda a criar um ambiente ligeiramente familiar (inclusive com alusões a músicas infantis que eu não sei se existem mesmo). Outras relações de causalidade mágica são criadas ou exploradas pelo autor fazendo com que aquele mundo realmente te seduza e envolva (como a obrigatoriedade da vingança da morte de um irmão, ou os poderes mágicos aparentemente sem explicação mas narrados de modo completamente comum de algfuns personagens).

Regras: outro exemplo delicioso da causalidade mágica são as regras. Em alguma parte do livro o Narrador diz "há regras para tudo". E em Stardust, no mundo das fadas, as regras são mágicas (pensamento mágico, que une coisas distantes por um vínculo duvidoso), divertidas e inusitadas.

Deus ex: no final, Gaiman amarra a história por fora, com eventos e personagens desconhecidos ou que pareciam não ter tanta importância. Isso também não é ruim, de modo algum. Dá o tom de que essa amarração dos eventos não era realmente a coisa mais importante, o assunto principal da narrativa. Eles me pareceram pretexto para fazer com que as coisas presentes na história acontececem. Para mim, não sei se para o autor, isso tem uma relação (boa) com um processo de desapego a certos detalhes para valorizar outros.

Morte: Neil traça uma relação engraçada com a morte. Há personagens no livro que já começam mortos (e participam da narrativa como espectadores e comentadores). Há alguma poesia nesses personagens: a voz deles soa como coisas parcialmente inaudíveis. O vento frio da manha, a brisa em um arbusto, etc, etc, etc. Outra coisa que achei fabulosa sobre a morte é que não há pudor ou descrição ao narrar a morte de alguém (ainda que esses personagens, desde o início, já tivessem sido pensados para morrer). A morte é algo tão natural na narrativa quanto atravessar a rua (e ganha um sabor especial quando alguns dos personagens que estavam vivos se juntam a elite dos mortos).

Protegidos: Se há um desapego ao tirar uma vida aqui e ali, há por outro lado um protecionismo "mágico" com os protagonistas. Nção perdem nada de fato dramático (pense bem, não perdem). Não diante da leitura do expectador. Nada surpeendente de fato acontece com eles, nada que não pudesse ser esperado ou cause qualquer espanto.

Poesia boa e poesia ruim: Se na figura daqueles homens mortos que são personagens (pintados pelo autor em cores escuras, com aspecto trranslúcido, vistos apenas de relance pelos personagens, presentes apenas espectralmente, e com a fala sutil aos personagens e tocante ao leitor) encontramos um exemplo de boa poesia, em inúmeras outras passagens a gente acha poesia ruim também ( como no já citado bucolismo).

Serenidade: Em entrevista a rede globo, durante sua visita ao Brasil para a Flip em 2008, Gaiman comparou o livro Stardust a uma "asa de borboleta". De fato, stardust tem passagens sutis e delicadas, e grande parte da história parece estar preste a se desmanchar. O desapego emocional a alguns personagens (por parte do autor-narrador e pela condução da história, mas veja que isso pode ser capaz de criar um apego ainda maior no leitor) é uma marca dessa sensação de "efemeridade", grande parte da jornada mágica é descrita assim. Nesse sentido, também evoca um clima onírico de sonho. Tudo parece distante, escorregadio, parace apalpável com a ponta dos dedos (senão, se desmanchará)

Não confunda: o protecionismo aos personagens principais pode até mesmo colaborar com o clima "asa de borboleta". Mas talvez exista algo de piegas ou previsível, ou cansativo, em uma asa de borboleta. A relação que ele estabelece com os sete irmãos é muito mais rica do que a traçada entre, por e com, Tristan e a estrela.

Alguma conclusão: Stardust tem passagens um pouco infantis, outras com um desenvolvimento meio sem graça, cansativo, previsível, sem sal. Do ponto de vista formal (da língua) não apresenta suas inovações super-especiais. Mas há questões "poéticas" (de poiesis, o fazer) de bastante interesse. Espero ter elucidado, para consulta e referência futura, aquelas práticas que mais me chamaram a atenção e instigaram minha reflexão.

Por hora é tudo o que acho que consigo ou vale a pena anotar a respeito. Talvez eu consiga aperfeiçoar meu método no futuro, com próximos livros. Espero que um eventual leitor deste relato possa tirar algum proveito dessas reflexões também. E perdoem algum exagero.

3 comentários:

  1. Bom como eu não li o livro e nunca li nada do Gaiman não posso dizer se teve algum exagero ou não. no entanto seu post deixa a vontade de conferir tais aspectos levantados.

    esperamos por mais registros como esses

    abraço.

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  2. Oi luiz, vi seu comentário no blog falecido do douglas colombelli. rsss. vc pode acompanhar o desenvolvimento dos novos trabalhos dele a partir deste blog que foi criado recentemente: doisaoavesso.blogspot.com

    agora está sem imagens e pouquíssimas postagens, mas se inscreva lá para ficar sabendo qdo ele estará sendo atualizado.

    abraços

    desiree

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